Burkina Faso nega ligações ao grupo paramilitar russo Wagner

O presidente de transição do Burkina Faso negou que o grupo paramilitar russo Wagner esteja a colaborar com o exército burquinabê na luta contra o fundamentalismo que ameaça o país desde 2015 e se agravou nos últimos anos.

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Lusa
05/05/2023 14:25 ‧ 05/05/2023 por Lusa

Mundo

Burkina Faso

"Não, o nosso exército, tanto quanto estou a falar convosco, está a lutar sozinho. São as nossas Forças de Defesa e Segurança [FDS] e os nossos Voluntários para a Defesa da Pátria [VDP] que estão a lutar", declarou o capitão Ibrahim Traoré, numa entrevista à imprensa local, na quinta-feira, sete meses depois de ter chegado ao poder.

Segundo o Presidente burquinabê, as alegadas ligações do seu país ao grupo Wagner estão a ser utilizadas para afastar o Burkina Faso de "certos Estados".

"Há muitos países que têm exércitos privados e que também nos abordaram para vender os seus serviços, o que nós rejeitámos", acrescentou, sublinhando que o foco está no grupo russo porque "há interesses geopolíticos e estratégicos".

Traoré confirmou que entre os aliados estratégicos do Burkina Faso estão a Rússia e a Turquia, assegurando que o país africano irá cooperar com aqueles que quiserem ajudar na guerra contra o fundamentalismo.

A este respeito, confirmou também uma parceria militar com Moscovo e que a maior parte do equipamento militar do exército burquinabê é russo.

"Muitos países recusaram-se a vender-nos equipamento [militar]. Recusaram-se categoricamente (...) Por isso, recorremos a outros países para comprar. Mas ainda há muitos países que muitas vezes vêm ofuscar para que não caminhemos em direção a esses Estados", disse Traoré.

A entrevista com o Presidente de transição surge depois de pelo menos 136 pessoas terem sido mortas por homens fardados na cidade nortenha de Karma, em 20 de abril, e de os habitantes terem responsabilizado o exército e os VDP (civis que colaboram com as forças armadas) pelo ataque, que gerou críticas nacionais e internacionais.

Traoré assegurou que as investigações estão em curso e pediu "que se evite fazer acusações sem saber o que aconteceu", lembrando que o equipamento militar e os uniformes do exército são por vezes apreendidos pelos rebeldes durante os ataques e combates.

"Quantas vezes fomos atacados por unidades que pensávamos serem nossas?", alertou.

Em dezembro passado, o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo, afirmou, durante a cimeira EUA-África, que o Burkina Faso tinha um acordo com o grupo paramilitar russo Wagner e que estes mercenários se encontravam na fronteira norte do Gana.

Dias depois, as autoridades burquinabês exigiram explicações ao embaixador do Gana no Burkina Faso e retiraram o seu representante no Gana em sinal de protesto.

O grupo Wagner, ligado ao Kremlin, está atualmente presente em vários países africanos, como a Líbia, a República Centro-Africana e o Mali.

O Burkina Faso tem sofrido frequentes ataques terroristas desde abril de 2015, perpetrados por grupos ligados aos fundamentalistas da Al-Qaida e extremistas do Estado Islâmico, especialmente no norte do país.

O país sofreu ainda dois golpes de Estado em 2022: um em 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro em 30 de setembro, por Traoré.

Leia Também: ONG defende investigação imparcial a massacre no Burkina Faso

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