O que leva a Liga Árabe a reintegrar a Síria 12 anos depois?
Eis alguns pontos essenciais sobre a reentrada do país na organização árabe.
© Foreign Ministry of Quwait / Handout/Anadolu Agency via Getty Images
Mundo Liga Árabe
A decisão da Liga Árabe reintegrar a Síria depois de 12 anos foi uma vitória simbólica significativa para Damasco, parte de um realinhamento regional e uma indicação do papel cada vez menor dos Estados Unidos, segundo analistas.
No entanto, pode não trazer imediatamente o financiamento para a reconstrução do país que o presidente sírio, Bashar Al-Assad, espera ou as alterações que os vizinhos da Síria desejam, como um acordo sobre o regresso de refugiados e medidas para reduzir o tráfico de drogas, consideram os analistas.
Os chefes das diplomacias dos países da Liga Árabe concordaram, numa reunião no Cairo no domingo, em reintegrar a Síria na organização, embora não haja sinal de uma resolução para a guerra civil no país, no 13º ano.
Eis alguns pontos essenciais sobre a reentrada do país na organização árabe:
O que é a Liga Árabe?
A Liga Árabe é uma organização de 22 membros fundada em 1945 para promover a cooperação regional e resolver disputas. No entanto, é amplamente vista como ineficaz e há muito tempo que luta para ajudar a resolver conflitos, especialmente as recentes guerras na Síria, Iémen e Líbia e a desavença diplomática entre as monarquias do Golfo e o Qatar.
Porque é que a Liga Árabe suspendeu a Síria?
A Liga suspendeu a adesão da Síria em 2011, depois do governo de Assad ter reprimido os protestos em massa contra o seu governo, uma revolta que rapidamente se transformou numa guerra civil. Qatar, Arábia Saudita e vários outros países árabes canalizaram apoio a grupos armados da oposição que tentavam derrubar Al-Assad, apoiado por Rússia, Irão e milícias afiliadas a Teerão.
Porque é que a reintegra 12 anos depois?
Depois de anos de impasse na guerra, o governo de Al-Assad tem um controlo seguro sobre a maior parte do país, particularmente sobre a maioria das principais cidades. Grupos de oposição ou forças curdas apoiadas pelos EUA controlam a maior parte do norte e leste da Síria - e é improvável que isso se altere a curto prazo -, mas há anos que se crê que a oposição será incapaz de derrubar Al-Assad, segundo os analistas.
Os governos árabes que anteriormente esperavam este resultado estão agora a decidir estabelecer contacto: "Não procuramos soluções mágicas, mas o que sabemos é que a situação atual é insustentável", disse o cientista político saudita Hesham Alghannam, citado pela AP, acrescentando não ser possível saber quando é que o conflito irá terminar e uma vez que "o boicote ao regime não levou a uma solução."
Nos últimos anos, vários países árabes tentaram restabelecer relações diplomáticas, como por exemplo os Emirados Árabes Unidos em 2018. Já a Jordânia e a Síria reabriram as fronteiras em 2021 e a Arábia Saudita e a Síria anunciaram, no mês passado, que estão a tomar diligências para reabrir embaixadas e retomar voos.
O devastador terramoto de 06 de fevereiro que atingiu a Síria e a Turquia também acelerou a reaproximação à Síria. Mais de 6.000 pessoas morreram no país e centenas de milhares perderam as suas casas. Autoridades de países outrora hostis visitaram Damasco pela primeira vez em mais de uma década e enviaram ajuda em aviões.
Aproximar-se de Al-Assad sob o pretexto da crise humanitária foi uma forma menos controversa de continuar a melhorar os laços.
Outro impulso foi o acordo mediado pela China para restabelecer os laços entre a Arábia Saudita e o rival regional Irão, o que os está a encorajar a reduzir conflitos com a Síria e o Iémen.
Por outro lado, os Estados Unidos deixaram de dar prioridade ao Médio Oriente e particularmente ao dossier Síria, levando os atores regionais a elaborar os próprios acordos com Damasco, apesar das objeções de Washington, considera Randa Slim, investigadora no Middle East Institute, com sede em Washington.
Quais são os países a favor e contra?
A Arábia Saudita desempenhou um papel fundamental na pressão pela readmissão da Síria à Liga Árabe, organizando uma reunião no mês passado para discutir o assunto, tendo a Jordânia organizado outra reunião no início deste mês.
O Qatar continuou a ser o mais resistente. No entanto, após a decisão de domingo de readmitir Damasco, disse em comunicado que "não será um obstáculo" para "um consenso árabe".
O Kuwait também não endossou a normalização, disse Bader Al-Saif, professor assistente de história na Universidade do Kuwait, querendo conhecer "quais são as condições, como é a solução política".
Uma das principais críticas à reaproximação é que Al-Assad não fez concessões no sentido de um acordo político para resolver o conflito na Síria.
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