Em comunicado, aquela ONG afirmou que os números "chocantes" - uma média de 50 novas vítimas por dia -, "refletem a extrema vulnerabilidade e o risco de violência enfrentado pelas pessoas deslocadas na área", localizada na capital da província de Kivu do Norte, que tem registado um aumento da insegurança nos últimos anos.
Os MSF acrescentam que quase 60% das vítimas foram atacadas menos de 72 horas antes de chegarem às suas clínicas, o que "ilustra a urgência da situação", no contexto dos combates entre o exército da RDCongo e os numerosos grupos rebeldes que operam nesta parte do país africano.
Estes combates levaram mais de um milhão de pessoas a fugir das suas casas desde março de 2022, com mais de 600 mil deslocados a procurar refúgio em campos nos arredores de Goma, onde as situações são frequentemente insalubres.
A ONG detalhou que, entre 17 e 30 de abril, tratou 674 vítimas de violência sexual em Bulengo, Lushagala, Kanyaruchinya, Eloime, Munigi e Rusayo - um dos campos mais recentes e mais densamente povoados, onde foram tratadas 360 pessoas.
No entanto, alertou para o facto de estes números poderem ser inferiores ao número real de incidentes, uma vez que apenas são contabilizados os casos em que as equipas médicas efetuaram consultas nos campos onde estão presentes.
"Diariamente, uma média de 48 novas vítimas de violência sexual são tratadas pelas nossas equipas nos campos de deslocados internos", disse Jason Rizzo, coordenador de emergência dos MSF no Kivu do Norte.
"Há meses que as nossas equipas têm vindo a lidar com um elevado número de casos, mas nunca à escala catastrófica das últimas semanas", afirmou, antes de sublinhar que se trata de "uma emergência médica e humanitária".
Os MSF afirmaram que quase todas as vítimas eram mulheres e que a maioria relatou ter sido agredida enquanto procurava comida ou lenha nos campos de refugiados.
Nos casos de Rusayo, Bulengo e Kanyaruchinya, mais de metade das vítimas foram atacadas por homens armados.
Apesar do aumento das atividades de várias organizações humanitárias nas últimas semanas, as condições de vida continuam a ser "desastrosas", de acordo com os MSF, que salientam que muitos dos residentes não têm acesso suficiente a alimentos, latrinas, água e abrigo.
"Há uma necessidade urgente de melhorar as condições de vida das pessoas nos campos. As necessidades básicas, como o acesso a alimentos, água e higiene, devem ser garantidas. Devem ser garantidas medidas de proteção para manter as mulheres, em particular, em segurança", sublinha-se no comunicado.
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