Dois anos de suspeitas e promessas de reconciliação entre China e EUA
China e Estados Unidos (EUA) parecem procurar recuperar as vias de diálogo diplomático, com sucessivos encontros ao mais alto nível, no campo diplomático e comercial, abrindo caminho a uma nova cimeira entre os presidentes Xi Jinping e Joe Biden.
© Reuters
Mundo China e EUA
Na passada semana, a Casa Branca anunciou que o seu enviado especial para o Ambiente, John Kerry, visitará Pequim num "futuro próximo"; hoje, em Viena, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, reuniu com o chefe da diplomacia do Partido Comunista Chinês, Wang Yi; também hoje, o embaixador dos EUA na China, Nicholas Burns, encontrou-se com o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, de acordo com o jornal South China Morning Post.
No espaço de poucos dias, os dois países - que tinham cortado todas as conexões políticas e diplomáticas, nos últimos meses - deram sinais de procurar recuperar os canais de comunicação, procurando superar o recente momento de suspeitas e de divergências, apesar de dois anos de promessas de reconciliação.
Na quarta-feira, comentando os recentes contactos ao mais alto nível, o Presidente dos EUA admitiu mesmo uma nova cimeira com Xi, que altos diplomatas chineses também já admitiram nos passados dias.
Desde a chegada do Presidente Democrata Joe Biden à Casa Branca, em janeiro de 2021, Washington e Pequim tentaram por várias vezes a reconciliação após os anos turbulentos da era do Republicano Donald Trump (2017-2021) - que se iniciou com uma dura guerra comercial e terminou com acusações de responsabilidade sobre a pandemia de covid-19 -- mas sem grandes progressos.
Em março de 2019, as delegações de alto nível dos dois países encontraram-se no Alasca, para uma longa reunião que procurava soluções para a guerra comercial iniciada em 2016, mas que terminou sem sequer um comunicado conjunto, refletindo as profundas divergências sobre temas como propriedade intelectual e acusações de espionagem industrial.
No final do encontro, os Estados Unidos mantiveram as tarifas alfandegárias sobre produtos chineses, sanções a autoridades responsáveis por conflitos em Hong Kong e violações de direitos humanos em Xinjiang; a China respondeu com ameaças a diplomatas norte-americanos e endureceu as tarifas sobre produtos norte-americanos.
No seu primeiro discurso no Congresso, em abril de 2021, refletindo esse ambiente de escalada de tensão, Biden anunciou que os Estados Unidos iriam apostar num ambicioso programa de investimento em infraestruturas, para "ser ainda mais competitivos" face à concorrência chinesa.
Em junho desse ano, os Estados Unidos convenceram os seus aliados a levar a NATO a declarar a China como uma "ameaça de segurança", num comunicado em que a Aliança Atlântica se mostrava determinada a combater "a modernização militar e os desenvolvimentos de armas nucleares" por Pequim.
O primeiro sinal de algum entendimento entre as duas potências apenas surgiu em novembro de 2021, quando China e Estados Unidos assinaram um comunicado conjunto durante a Cimeira do Clima em Glasgow, onde se comprometeram a aumentar a cooperação no combate às alterações climáticas.
Dias depois da cimeira na Escócia, Biden e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, reuniram virtualmente, numa videochamada de três horas, em que o ambiente de crispação ficou de novo patente, com o líder norte-americano a levantar preocupações com as violações de direitos humanos em Xinjiang e o líder chinês a dizer que o apoio dos Estados Unidos a Taiwan é como "brincar com o fogo".
Em fevereiro de 2022, na véspera da invasão russa da Ucrânia, os Estados Unidos impuseram um boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, alegando as violações dos direitos humanos por parte das autoridades chinesas face à minoria uighur.
Em março, Biden ameaçou Xi com "consequências" se a China fornecesse material militar a Moscovo, quando as forças russas já se encontravam no interior da Ucrânia, mas Pequim recusou condenar a Rússia pela invasão.
Por isso, num discurso em maio do ano passado, o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, referiu-se à China como "a mais séria ameaça de longo prazo à ordem internacional".
Num gesto considerado "provocatório" pelas autoridades chinesas, em agosto passado a então líder da maioria Democrata na Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, levando Pequim a responder com a suspensão do acordo climático assinado em Glasgow, apesar de alguma contenção nos discursos diplomáticos.
Em plena escalada de tensão, Biden e Xi encontraram-se pela primeira vez presencialmente na Indonésia, em novembro passado, em Bali, numa cimeira em que prometeram deixar canais abertos de comunicação, com a China a prometer que "não desejava o conflito".
Na quarta-feira, quando questionado sobre a possibilidade de uma nova cimeira, após os recentes encontros ao mais alto nível entre os dois países, nos últimos dias, o Presidente norte-americano mostrou-se otimista.
"Há progresso. Vai acontecer", disse Biden.
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