Todos os 44 antigos membros da ETA que surgem nas listas do EH Bildu foram condenados por atos considerados terroristas e todos cumpriram integralmente as penas, não havendo atualmente qualquer limitação nos seus direitos políticos e civis ou impedimento legal para serem candidatos em eleições.
No entanto, a polémica que nos últimos dias dominou os debates públicos e a campanha eleitoral em Espanha para as eleições de 28 de maio levou os sete condenados por assassinatos da ETA, o grupo terrorista já extinto que defendia a independência do País Basco espanhol, a anunciarem hoje a desistência da corrida eleitoral.
"Com esta decisão queremos dirigir-nos, em primeiro lugar às vítimas da ETA e, em geral, a todas as pessoas que sofreram neste conflito, para mostrar assim o nosso compromisso para que nem as nossas palavras nem as nossas ações acrescentem o mais mínimo sofrimento ao que já houve", escreveram num comunicado os sete antigos elementos da ETA (Euskadi Ta Askatasuna).
No mesmo texto, sublinharam que participaram "desde o início" na "mudança de estratégia" dos independentistas bascos de esquerda, na corrente conhecida como "esquerda 'abertzale'", em que a ETA dizia inscrever-se, e que levou ao fim da violência do grupo há 12 anos e à sua dissolução há cinco.
Essa mudança de estratégia traduziu-se na "aposta inequívoca por vias exclusivamente políticas e democráticas", sublinharam os sete ex-etarras, numa referência a que estavam a responder ao apelo que reiteradamente foi feito e continua a ser feito para que os antigos membros e simpatizantes da ETA defendam aquilo em que acreditam pela via da política e legal.
"Parece bastante óbvio que nos últimos dias se impuseram os interesses partidários e eleitorais que pouco ou nada têm a ver com a construção da convivência e paz", acrescentaram, assegurando não terem a intenção de "ocultar o passado" e que não pretendem negar agora a "militância do passado".
No entanto, lamentaram, há "setores reacionários que querem condenar" o país "a um passado sem futuro".
A direita espanhola transformou nos últimos dias a presença de antigos elementos da ETA nas listas do EH Bildu no principal tema da campanha eleitoral para as eleições regionais e municipais de 28 de maio, insistindo em que este partido independentista basco é "um aliado" dos socialistas no parlamento espanhol.
O EH Bildu, uma coligação de partidos da "esquerda 'abertzale'" basca, foi fundamental para a viabilização do atual Governo de Espanha, liderado pelo socialista Pedro Sánchez.
Do EH Bildu tem também dependido a aprovação de muitas leis do Governo de Sánchez no parlamento, incluindo os orçamentos do Estado.
Na sexta-feira, o primeiro-ministro condenou a presença de condenados da ETA nas listas eleitorais do EH Bildu.
"Há coisas que podem ser legais, mas não são decentes. A única coisa que essas pessoas podem trazer à vida pública é uma mensagem de perdão, reparação e arrependimento", disse Sánchez, que acrescentou que a democracia "derrotou a ETA" há 12 anos e que agora é "o trabalho de todos os líderes políticos reconhecer e apoiar as vítimas do terrorismo".
Nos últimos dias, Sánchez e outros dirigentes do Partido Socialista espanhol (PSOE) têm também criticado a direita por estarem a aproveitar-se do terrorismo e da "dor das vítimas" da ETA para fazerem o debate político.
"Cada vez que dão por perdidas as eleições, que é que vai acontecer em 28 de maio, usam sempre o mesmo argumento, que é o da ETA", afirmou o primeiro-ministro espanhol e líder do PSOE numa iniciativa de campanha, na segunda-feira.
O líder do Partido Popular (PP, a maior força da oposição), Alberto Núñez Feijóo, congratulou-se hoje, numa publicação na rede social Twitter, com a saída dos condenados por assassinatos das listas eleitorais, "apesar de Pedro Sánchez".
"A democracia, a dignidade e a decência da maioria dos espanhóis impôs-se apesar de Pedro Sánchez, que escolheu deixar sozinhos os espanhóis. Demos um primeiro passo. Vamos dar os seguintes", escreveu Feijóo.
Além das eleições municipais e regionais de 28 de maio, Espanha tem este ano legislativas nacionais, em dezembro.
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