Antigos condenados da ETA desistem de candidaturas eleitorais em Espanha

Um partido do País Basco apresentou listas para as eleições municipais deste mês em Espanha com 44 antigos membros do grupo terrorista ETA, incluindo sete condenados por assassinatos que, após dias de polémica, desistiram hoje da corrida eleitoral.

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Lusa
16/05/2023 14:46 ‧ 16/05/2023 por Lusa

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ETA

Todos os 44 antigos membros da ETA que surgem nas listas do EH Bildu foram condenados por atos considerados terroristas e todos cumpriram integralmente as penas, não havendo atualmente qualquer limitação nos seus direitos políticos e civis ou impedimento legal para serem candidatos em eleições.

No entanto, a polémica que nos últimos dias dominou os debates públicos e a campanha eleitoral em Espanha para as eleições de 28 de maio levou os sete condenados por assassinatos da ETA, o grupo terrorista já extinto que defendia a independência do País Basco espanhol, a anunciarem hoje a desistência da corrida eleitoral.

"Com esta decisão queremos dirigir-nos, em primeiro lugar às vítimas da ETA e, em geral, a todas as pessoas que sofreram neste conflito, para mostrar assim o nosso compromisso para que nem as nossas palavras nem as nossas ações acrescentem o mais mínimo sofrimento ao que já houve", escreveram num comunicado os sete antigos elementos da ETA (Euskadi Ta Askatasuna).

No mesmo texto, sublinharam que participaram "desde o início" na "mudança de estratégia" dos independentistas bascos de esquerda, na corrente conhecida como "esquerda 'abertzale'", em que a ETA dizia inscrever-se, e que levou ao fim da violência do grupo há 12 anos e à sua dissolução há cinco.

Essa mudança de estratégia traduziu-se na "aposta inequívoca por vias exclusivamente políticas e democráticas", sublinharam os sete ex-etarras, numa referência a que estavam a responder ao apelo que reiteradamente foi feito e continua a ser feito para que os antigos membros e simpatizantes da ETA defendam aquilo em que acreditam pela via da política e legal.

"Parece bastante óbvio que nos últimos dias se impuseram os interesses partidários e eleitorais que pouco ou nada têm a ver com a construção da convivência e paz", acrescentaram, assegurando não terem a intenção de "ocultar o passado" e que não pretendem negar agora a "militância do passado".

No entanto, lamentaram, há "setores reacionários que querem condenar" o país "a um passado sem futuro".

A direita espanhola transformou nos últimos dias a presença de antigos elementos da ETA nas listas do EH Bildu no principal tema da campanha eleitoral para as eleições regionais e municipais de 28 de maio, insistindo em que este partido independentista basco é "um aliado" dos socialistas no parlamento espanhol.

O EH Bildu, uma coligação de partidos da "esquerda 'abertzale'" basca, foi fundamental para a viabilização do atual Governo de Espanha, liderado pelo socialista Pedro Sánchez.

Do EH Bildu tem também dependido a aprovação de muitas leis do Governo de Sánchez no parlamento, incluindo os orçamentos do Estado.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro condenou a presença de condenados da ETA nas listas eleitorais do EH Bildu.

"Há coisas que podem ser legais, mas não são decentes. A única coisa que essas pessoas podem trazer à vida pública é uma mensagem de perdão, reparação e arrependimento", disse Sánchez, que acrescentou que a democracia "derrotou a ETA" há 12 anos e que agora é "o trabalho de todos os líderes políticos reconhecer e apoiar as vítimas do terrorismo".

Nos últimos dias, Sánchez e outros dirigentes do Partido Socialista espanhol (PSOE) têm também criticado a direita por estarem a aproveitar-se do terrorismo e da "dor das vítimas" da ETA para fazerem o debate político.

"Cada vez que dão por perdidas as eleições, que é que vai acontecer em 28 de maio, usam sempre o mesmo argumento, que é o da ETA", afirmou o primeiro-ministro espanhol e líder do PSOE numa iniciativa de campanha, na segunda-feira.

O líder do Partido Popular (PP, a maior força da oposição), Alberto Núñez Feijóo, congratulou-se hoje, numa publicação na rede social Twitter, com a saída dos condenados por assassinatos das listas eleitorais, "apesar de Pedro Sánchez".

"A democracia, a dignidade e a decência da maioria dos espanhóis impôs-se apesar de Pedro Sánchez, que escolheu deixar sozinhos os espanhóis. Demos um primeiro passo. Vamos dar os seguintes", escreveu Feijóo.

Além das eleições municipais e regionais de 28 de maio, Espanha tem este ano legislativas nacionais, em dezembro.

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