Apesar de a reutilização de plástico reciclado ter-se tornado numa política comum para combater o aumento de resíduos no ambiente, desde vestuário a novos recipientes, a Greenpeace avisou, esta quarta-feira, que a reciclagem pode torná-lo ainda mais tóxico do que o original e pediu que os produtos com base em materiais reciclados não se tornem numa solução para a crise climática.
Um relatório, divulgado hoje por aquela que é a maior organização ambiental a nível mundial, explica que "os plásticos são inerentemente incompatíveis com a economia circular" e denunciou a quantidade de químicos presentes na reciclagem. Além disso, criticou as empresas que poluem mais o ambiente, por usarem esta tática para se apresentarem como sustentáveis.
"A indústria dos plásticos - incluindo a dos combustíveis fósseis, petroquímicos e bens de consumo - continua a avançar com a reciclagem de plásticos como uma solução para a crise de poluição. No entanto, a toxicidade do plástico na verdade aumenta com a reciclagem. Os plásticos não têm lugar na economia circular e é claro que a única solução real para acabar com a poluição de plásticos é reduzir massivamente a produção", afirmou a organização.
O relatório da Greenpeace consolidou vários estudos sobre o tema, e surge uma semana antes de vários líderes mundiais de 175 países se juntarem em Paris, para discutir o Tratado Global de Plásticos, para combater a poluição provocada por estes materiais e a para tentar chegar a um acordo para a redução da produção e consumo de plásticos. Alguns dos maiores problemas que devem ser discutidos pelos líderes, segundo os ativistas ambientais, são a utilização massiva de plásticos pela indústria da moda (especialmente pela 'fast fashion').
No entanto, a conferência já foi criticada por organizações não-governamentais, que repudiaram a falta de países do Sul Global, que são frequentemente as nações mais impactadas pela crise climática provocada por países mais desenvolvidos.
In 1 week, governments are meeting to discuss a Global #PlasticsTreaty and must get it right. That means an ambitious treaty that will dramatically reduce plastic production…. anything less & the treaty will fail.
— Greenpeace USA (@greenpeaceusa) May 22, 2023
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Os resultados do estudo apontam ainda que os plásticos reciclados contêm, frequentemente, níveis maiores de químicos, nomeadamente de retardantes tóxicos inflamáveis, agentes carcinogénicos, várias substâncias nocivas para o ambiente e ainda químicos que podem provocar mudanças hormonais no corpo humano.
Citado pela The Guardian, a cientista Therese Karlsson, da Rede Internacional de Eliminação de Poluentes (IPEN, na sigla em inglês), esclareceu que "os plásticos são feitos de químicos tóxicos e estes químicos não desaparecem simplesmente quando os plásticos são reciclados".
"A ciência mostra que reciclar plástico é uma prática tóxica que ameaça a nossa saúde e o ambiente durante todo o processo. No fundo, o plástico envenena a economia circular e os nossos corpos, e polui o ar, a água e a comida. Não devemos reciclar plásticos que contenham químicos tóxicos. Soluções reais para a crise devem obrigar a controlos globais nos químicos nos plásticos e uma redução significativa da produção", sublinhou a especialista.
Há, além disso, a dinâmica problemática de a maioria dos plásticos considerados recicláveis serem exportados por países tipicamente mais ricos, para países de zonas mais pobres do globo.
A Greenpeace USA concluiu que, desde os anos 50, já foram produzidas mais de 8 mil milhões de toneladas de plástico e os estudos internacionais demonstraram que apenas 9% dos plásticos foram, em algum ponto, reciclados. Os valores devem continuar, no entanto, a aumentar, com a organização internacional a prever que a produção triplique até 2060, apelando a uma redução significativa da presença de plástico na sociedade global.
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