DeSantis apresentou na quarta-feira a candidatura num documento entregue à Comissão Eleitoral Federal, e divulgou um vídeo anunciando que quer "liderar o retorno" dos Estados Unidos, apontando a entrada de migrantes nas fronteiras, o crime e a interferência do Governo federal como alguns dos principais problemas do país.
Numa entrevista recente, DeSantis recordava a conversa com um eleitor do Partido Republicano, que se mostrava preocupado com o desfecho das eleições presidenciais de 2024, incentivando o governador da Florida a tentar travar um segundo mandato do Presidente democrata Joe Biden.
Esse eleitor explicava que gostava das políticas do ex-Presidente Donald Trump (que as sondagens indicam ser o candidato melhor posicionado para as primárias Republicanas), mas não gostava dos seus valores, pelo que provavelmente nem sequer iria votar.
"Depois confessou que gostava um pouco menos das minhas políticas, mas agradavam-lhe muito os meus valores, pelo que me assegurou o seu voto", explicava DeSantis, para mostrar a sua grande diferença relativamente a Trump, na corrida às primárias do Partido Republicano em que acabou de se inscrever.
Contudo, as diferenças entre DeSantis e Trump são bem mais profundas.
Ron DeSantis quer trazer a sua marca de liderança que experimentou na Florida e que lhe valeu um surpreendente resultado nas eleições intercalares de novembro passado, reelegendo-o para um novo mandato como governador.
Nascido em 1978, DeSantis apresenta-se como o rosto de uma nova geração de republicanos que rejeita as posições mais radicais do seu partido, sem negar os valores conservadores e tradicionais.
Ainda assim, o governador da Florida também atraiu muitas críticas, nomeadamente por parte de grupos ambientalistas, descontentes com a forma como lida com as alterações climáticas.
Mas, quando cercado politicamente, DeSantis mostra a sua habilidade política no recurso à ambiguidade, como aconteceu em março passado, quando declarou que a defesa da Ucrânia contra a invasão russa não deveria ser uma prioridade para o Governo dos EUA, aproximando-se taticamente das posições de Trump e fazendo cair sobre si críticas dos seus apoiantes no Congresso.
A sua formação militar conferiu-lhe a imagem de homem disciplinado e de espírito frio perante as mais duras adversidades, tendo sido elogiado pelo modo equilibrado como lidou com a pandemia de covid-19 no governo do seu estado.
Esse prestígio é o que mais preocupa a equipa de Donald Trump, que cedo percebeu que a maior ameaça interna a uma reeleição presidencial vinha da Florida e tinha o rosto de um dos mais influentes republicanos que raras vezes concordou com o ex-Presidente.
Aliás, DeSantis chegou a fazer severas críticas a Trump, quando este estava na Casa Branca, não escondendo as divergências em áreas relevantes, desde a economia (onde tem uma posição de maior aceitação do investimento público) até à imigração (condenando os exageros nas restrições de entradas).
As sondagens indicam que Trump está à frente de DeSantis em cerca de 30 pontos, e tem vindo a crescer nas últimas semanas, mas os analistas acreditam que esta diferença pode ser rapidamente encurtada com o anúncio oficial da entrada na corrida do governador da Florida.
Na sede do Partido Republicano há ainda a preocupação com o facto de DeSantis ser particularmente vulnerável num embate contra Joe Biden nos 'swing states' considerados cruciais para o resultado final das eleições presidenciais de 2025: Pensilvânia, Wisconsin e Michigan.
Por outro lado, a formalização da candidatura do senador Tim Scott, da Carolina do Sul, pode também baralhar o desfecho das primárias, em desfavor de Trump, já que pode apelar aos eleitores que progressivamente se mostram incomodados com os casos judiciais em que o ex-Presidente está envolvido.
Mas há um outro aspeto da candidatura de DeSantis que está a preocupar a equipa de campanha de Trump: a forma como o governador da Florida está a ser capaz de ganhar a simpatia dos financiadores.
Para os próximos dias, DeSantis reservou dezenas de quartos em vários hotéis na Florida para poder reunir-se com muitos desses doadores e garantir que a sua campanha fica com os bolsos cheios para encarar um longo e duro embate contra a poderosa máquina de Trump.
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