O novo edifício do parlamento indiano foi inaugurado este domingo com pompa e circunstância, mas o parlamento em si esteve quase vazio, após os principais partidos da oposição terem-se unido num boicote à cerimónia do partido ultranacionalista hindu de Narendra Modi, que tem protagonizado um governo autoritário e de repressão das várias minorias étnicas na Índia.
Modi, que procurará ser eleito pela terceira vez nas eleições deste ano (naquele que é o maior ato eleitoral do mundo), encabeçou a cerimónia, que contou com autoridades Hindu e com hinos religiosos. No entanto, o evento foi amplamente criticado por não considerar a representação da vasta população muçulmana no país, além de outras religiões, e por não contar com o presidente e chefe de Estado, Droupadi Murmu.
Na inauguração, Modi esperou que "este icónico edifício seja o berço do empoderamento, criando sonhos e transformando-os em realidade".
Modi inaugurates India’s new parliament building with a bunch Hindu Brahmin priests-India is constitutionally still a secular country and Brahmins are only 3% of India’s population. pic.twitter.com/8V4PAO1BhT
— Ashok Swain (@ashoswai) May 28, 2023
Pelo menos 19 partidos da oposição faltaram à inauguração que, além da presença de líderes religiosos, coincidiu ainda com o aniversário da ideologia nacionalista do partido de Modi, o Bharatiya Janata.
Num comunicado conjunto divulgado na quarta-feira, citado pela NBC News, os partidos criticaram a decisão de Modi inaugurar o local como um "grave insulto" à democracia indiana, ao substituir-se ao chefe de Estado, considerando que o governo "desqualificou, suspendeu e silenciou" os restantes deputados.
"Quando a alma da democracia foi sugada do parlamento, consideramos que não há valor no novo edifício", atiraram os partidos.
O edifício, construído sob a forma de uma pirâmide, custou cerca de 120 milhões de dólares (quase 112 milhões de euros) e faz parte de um projeto de 2,6 mil milhões de euros para reestruturar os edifícios governamentais em Nova Deli, criados durante a ocupação colonial britânica. No projeto estão incluídos ministérios, departamentos de estado e a residência privada do primeiro-ministro.
No entanto, o vasto projeto foi também criticado por arquitetos, peritos e ambientalistas, que explicaram que os edifícios não são ecologicamente responsáveis e que são uma ameaça ao legado multicultural da Índia, além de fazerem parte do grande plano ultranacionalista Hindu de Narendra Modi.
Vários partidos questionaram também o valor avultado das obras, que foi crescendo em 2021, numa altura em que a Índia enfrentava uma vaga extremamente mortífera de Covid-19.
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