Ramaphosa nomeia juiz para inquérito a entrega de armas à Rússia

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, nomeou um juiz para supervisionar um inquérito sobre as alegações de que o país forneceu armas à Rússia num navio que atracou secretamente numa base naval em dezembro.

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Lusa
29/05/2023 15:13 ‧ 29/05/2023 por Lusa

Mundo

África do Sul

As alegações foram feitas este mês pelo embaixador dos Estados Unidos na África do Sul, que disse ter a certeza de que armas e munições foram carregadas no cargueiro "Lady R", de bandeira russa, quando este atracou na base naval de Simon's Town, perto da Cidade do Cabo, no final do ano passado.

O embaixador Reuben Brigety indicou que os Estados Unidos dispunham de informações que sustentavam a alegação e disse que apostaria a sua vida na exatidão da sua afirmação de que tinham sido carregadas armas no navio.

O navio de transporte de contentores "Lady R" está sujeito a sanções norte-americanas por estar ligado a uma empresa que transportou armas para ajudar o esforço de guerra russo na Ucrânia.

A África do Sul negou que tenha havido qualquer acordo sancionado pelo governo para fornecer armas à Rússia, embora não tenha excluído categoricamente a possibilidade de ter havido uma transação não oficial envolvendo outra entidade.

O juiz P.M.D. Mojapelo, antigo juiz do Supremo Tribunal de Recurso, foi nomeado presidente de um painel de três membros para investigar o incidente, disse o gabinete de Ramaphosa numa declaração no domingo. Foram também nomeados um advogado e um antigo ministro da Justiça.

O painel tem seis semanas para concluir as suas investigações e mais duas semanas para apresentar um relatório a Ramaphosa, disse o gabinete do Presidente.

"O painel foi incumbido de apurar as pessoas que tinham conhecimento da chegada do cargueiro e, se for o caso, do conteúdo a ser descarregado ou carregado, da partida e do destino da carga", disse o gabinete de Ramaphosa.

Ramaphosa ordenou o inquérito devido à gravidade das alegações e "ao impacto deste assunto nas relações internacionais da África do Sul", adiantou ainda a Presidência sul-africana.

A África do Sul pode estar a violar o direito internacional e as suas próprias leis relativas à venda de armas se se descobrir que forneceu armas a Moscovo para a guerra na Ucrânia.

O incidente tem vindo a afetar as relações entre os Estados Unidos e a África do Sul, que é a economia mais desenvolvida de África e um dos principais parceiros ocidentais no continente.

A ministra da Defesa sul-africana, Thandi Modise, disse que o "Lady R" estava de visita para entregar um carregamento de munições da Rússia, que foi encomendado pela África do Sul em 2018, mas que foi adiado devido à pandemia de covid-19.

Modise recusou-se a divulgar documentos relacionados com a visita do "Lady R" após pedidos dos partidos da oposição, afirmando que são confidenciais. No entanto, disse que os vai divulgar para o inquérito.

Entretanto, os Estados Unidos expressaram "preocupações" junto do Governo de Moçambique com o facto de o cargueiro ter atracado em janeiro num porto do país, segundo disse à Lusa a porta-voz da embaixada norte-americana em Maputo.

"A embaixada dos Estados Unidos manifestou preocupações junto de representantes do Governo moçambicano sobre a ancoragem de um cargueiro russo sancionado pelos Estados Unidos num porto da Beira, em janeiro deste ano", referiu, em resposta a questões colocadas pela Lusa.

"Desde antes do início da invasão ilegal da Ucrânia pela Rússia, os Estados Unidos e parceiros têm trabalhado com governos de todo o mundo para restringir o acesso da Rússia a tudo o que apoie os seus militares", acrescentou, sem mais detalhes.

Moçambique tem assumido uma posição de neutralidade face à invasão russa da Ucrânia, abstendo-se nas votações de condenação à Rússia nas Nações Unidas e apelando ao diálogo para terminar o conflito, a partir do seu lugar de membro não-permanente no Conselho de Segurança da ONU.

Leia Também: África do Sul nomeia painel para investigar entrega de armas à Rússia

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