A jornalista iraniana Niloufar Hamedi, que revelou o caso de Mahsa Amini, na origem de um vasto movimento de protesto no Irão, começou a ser julgada na terça-feira em Teerão.
A mulher, de 30 anos, afirmou em tribunal que "fez seu trabalho como jornalista dentro da lei e não cometeu nenhum ato contra a segurança do Irão", revelou o seu marido, Mohammad Hossein Ajorlou, no Twitter.
Esta jornalista do diário reformista Shargh foi detida em 21 de setembro e passou grande parte da detenção em regime de isolamento.
This week, Iranian journalists #ElahehMohammadi & #NiloofarHamedi, who have been in prison for more than 9 months because of their groundbreaking coverage of #MahsaAmini’s death, will go to court. Journalism is never a crime. #WomanLifeFreedom #زن_زندگى_آزادى pic.twitter.com/chYqMeZdd7
— Jonathan Harounoff (@JonathanHaroun1) May 29, 2023
Este julgamento teve início um dia após o de Elaheh Mohammadi, de 36 anos, também ela jornalista. Por sua vez, Mohammadi cobriu o funeral de Amini, na sua cidade - Saqez, no Curdistão -, onde começaram os protestos, em 17 de setembro.
Mohammadi trabalhava para o diário Hammihan e foi detida em casa, em 22 de setembro.
Ambas as jornalistas estão detidas desde então e começaram agora a ser julgadas, à porta fechada, em processos separados. As duas correm o risco de ser condenadas a pena de morte após terem sido acusadas de "propaganda" contra a República Islâmica e conspiração contra a segurança nacional.
Niloufar Hamedi foi apresentada à seção 15 do Tribunal Revolucionário de Teerão perante o juiz Abolghasem Salavati, conhecido pela severidade dos seus vereditos em julgamentos políticos.
Segundo o marido da jornalista, a família não pôde comparecer à audiência e os advogados "não tiveram oportunidade de apresentar o seu caso".
"Não houve tempo para a defesa oral", disse Parto Borhanpour, advogado da jornalista. Os advogados protestaram contra "a falta de acesso de Niloufar Hamedi a um advogado durante sua detenção" e exigiram que o julgamento fosse realizado "publicamente", acrescentou.
Hamedi e Mohammadi são apenas duas de entre uma quase centena de jornalistas detidos por fazerem o seu trabalho durante os protestos no Irão, segundo o Comité para a Proteção de Jornalistas.
Daquele total, pelo menos 72 foram libertados sob fiança.
A morte de Amini causou fortes protestos em todo o país, em que se pediu o fim da República Islâmica, protagonizados sobretudo por jovens e mulheres, que acabaram depois de uma forte repressão estatal, que causou pelo menos 500 mortos.
Há também registo de quatro enforcamentos, um dos quais em público, por participação nos protestos.
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