Destruição de barragem na Ucrânia faz temer catástrofe humana e ecológica

As autoridades ucranianas e russas continuaram hoje a retirar civis das zonas inundadas pela destruição, na terça-feira, da barragem de Kakhovka, no rio Dniepre, sul da Ucrânia, que fez temer uma catástrofe humana e ecológica.

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© Zelenskyy Social Media Account / Handout/Anadolu Agency via Getty Images

Lusa
07/06/2023 17:25 ‧ 07/06/2023 por Lusa

Mundo

Kakhovka

A central hidroelétrica, junto à cidade de Nova Kakhovka, situa-se na região de Kherson, anexada pela Rússia em setembro de 2022, sete meses depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, ter ordenado a invasão da Ucrânia.

As forças ucranianas reconquistaram Kherson, na margem direita do Dniepre, mas a sul, na margem esquerda do rio, o controlo continua nas mãos das tropas russas.

A Ucrânia acusou as forças russas de terem destruído a barragem para travar uma contraofensiva e a Rússia atribuiu o incidente a bombardeamentos ucranianos.

A generalidade da comunidade internacional culpou a Rússia, mas o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou-se prudente numa reação divulgada na terça-feira, por falta de informações independentes.

Considerou, porém, tratar-se de uma "monumental catástrofe humana, económica e ecológica", e mais uma "consequência devastadora da invasão russa" da Ucrânia.

A barragem foi construída na década de 1950, quando a Ucrânia integrava a então União Soviética.

Principais consequências, conhecidas até agora, da destruição da barragem com base em notícias das agências espanhola EFE, francesa AFP, norte-americana AP e russa TASS, além da Lusa:

Milhares de pessoas retiradas das zonas de risco

As autoridades ucranianas anunciaram hoje que retiraram mais de 1.450 pessoas das áreas mais afetadas.

Na margem esquerda, os meios de comunicação social russos noticiaram a retirada de 1.300 residentes.

O estado de emergência foi decretado na região de Kherson.

 

Milhares de hectares de terras agrícolas inundadas

No lado do rio controlado por Kiev, a água da barragem inundou cerca de dez mil hectares de terras agrícolas, disse o Ministério da Agricultura ucraniano.

O ministério alertou para as consequências que a situação poderá ter para a segurança alimentar de uma das regiões mais produtivas da Europa.

A destruição da barragem impossibilita o funcionamento de pelo menos 31 sistemas de irrigação, não só na região de Kherson, mas também nas regiões vizinhas de Dnipropetrovsk e Zaporijia.

Estes sistemas irrigavam mais de meio milhão de hectares.

 

Danos no sistema elétrico 

Cerca de 20 mil assinantes do sistema elétrico ucraniano ficaram sem energia nos territórios controlados por Kiev, depois de a torrente de água ter inundado 129 subestações elétricas, informou o Ministério da Energia ucraniano.

A catástrofe, descrita pelas autoridades ucranianas como um "ecocídio", teve também um impacto no sistema de canalização e distribuição de água da rede pública.

Seis infraestruturas de tratamento de água foram inundadas, segundo as autoridades municipais da cidade de Kherson.

 

Risco para o abastecimento de água

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que "centenas de milhares de pessoas ficaram sem acesso normal à água potável".

O Governo de Kiev aprovou com urgência uma rubrica orçamental destinada à construção de condutas para levar água potável às regiões que utilizavam a barragem para o abastecimento de água.

 

Milhares de animais mortos

As inundações mataram milhares de animais no Parque Nacional de Kherson, ocupado pelos russos, de acordo com a autoridade pró-Moscovo de Nova Kakhovka.

O parque, que cobre mais de 80 mil hectares, albergava mais de 70 espécies raras.

Organizações não-governamentais (ONG) ucranianas registaram a morte de todos os animais do jardim zoológico de Nova Kakhovka e de muitos animais de estimação em ambas as margens do rio Dniepre.

 

Toneladas de óleo de motor

A Ucrânia divulgou um vídeo que mostra milhares de peixes mortos, presumivelmente devido ao derrame de óleo de motor armazenado na casa das máquinas da central hidroelétrica.

Kiev denunciou, na terça-feira, o derrame de pelo menos 150 toneladas de óleo hidráulico no rio Dniepre e no Mar Negro, onde desagua, na sequência de uma explosão que, segundo as autoridades ucranianas, só poderia ter ocorrido no interior da casa das máquinas da central.

 

Milhões de euros de prejuízos

A construção de uma nova central hidroelétrica, após os danos irreparáveis sofridos pela de Kakhovka, irá custar cerca de mil milhões de dólares (mais de 930 milhões de euros), disse o Ministério da Economia ucraniano.

 

+++ Central nuclear de Zaporijia +++

A Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) reportou uma "redução significativa" no reservatório utilizado para enviar água para a refrigeração da central nuclear de Zaporijia, situada a 120 quilómetros.

Para já, segundo a AIEA, não há um risco imediato para a segurança daquela que é maior central nuclear da Europa.

 

Risco de minas

As autoridades ucranianas manifestaram-se preocupadas com a possibilidade de as águas deslocarem minas, algumas das quais poderão aparecer em zonas já desminadas, pondo em perigo a população.

 

+++ Ajuda internacional +++

A União Europeia (UE) enviou hoje ajuda de emergência para a Ucrânia, incluindo cinco mil filtros de água e 56 geradores cedidos pela Alemanha, bem como vinte contentores de água e dez bombas para águas lamacentas oferecidas pela Áustria.

A Alemanha e a Lituânia disponibilizaram ainda material para abrigos, como tendas, camas e cobertores

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) anunciou hoje estar em curso uma resposta de emergência para prestar assistência urgente a mais de 16 mil pessoas afetadas pelas inundações.

A ajuda inclui água potável, assistência em dinheiro e apoio jurídico e psicossocial, segundo o 'site' da organização.

Já se distribuíram cerca de 12 mil garrafas de água, mais de 1.700 'kits' com bens essenciais para crianças deslocadas e dez mil pastilhas de purificação de água em cinco municípios de Kherson e na cidade de Mykolaiv, disse o OCHA.

"As avaliações para determinar o impacto, bem como a assistência em zonas atualmente sob o controlo militar da Federação Russa, não foram possíveis devido à falta de acesso da ONU e das ONG ucranianas", acrescentou.

Leia Também: Destruição de barragem? "Catástrofe ambiental e humanitária", diz Putin

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