O anúncio foi feito em comunicado, a que a Lusa teve acesso, pelo porta-voz do partido, Mahlengi Bhengu-Motsiri, após uma reunião do comité disciplinar nacional (NDC) do ANC.
"Depois de um veredicto de culpado pelo NDC, o camarada Ace Magashule foi autorizado a explicar o motivo pelo qual não deveria ser expulso do ANC. Após o lapso de sete dias, o NDC não recebeu nenhuma representação nesse sentido", referiu.
"Consequentemente, o NDC confirmou a expulsão do camarada Ace Magashule do ANC como sanção final", lê-se na nota.
Magashule foi considerado culpado pela direção do ANC de "desacreditar" o partido governante, e de ter tentado suspender na qualidade de secretário-geral o presidente do partido, Cyril Ramaphosa, que é também Presidente da República.
"A luta continua", garantiu hoje o ex-secretário-geral do ANC à imprensa sul-africana.
Magashule foi inicialmente suspenso do cargo em 03 de maio de 2021, por recusar cumprir as instruções do partido de se afastar do cargo enquanto era acusado criminalmente na justiça por corrupção pública, e apresentar um pedido desculpas a Ramaphosa.
Ace Magashule, 63 anos, ex-membro do antigo braço armado do ANC 'Umkhonto we Sizwe' e ex-governador do partido no poder na província do Estado Livre, centro do país, foi acusado por fraude, corrupção e lavagem de dinheiro, num caso relacionado com a atribuição de um contrato de auditoria de amianto na ordem de 255 milhões de rands (13,5 milhões de euros), em 2014, na província do centro do país.
Na altura, Magashule, em liberdade condicional mediante o pagamento de 200.000 rands (10.842 euros), afirmou que as acusações foram politicamente motivadas.
O alto quadro político do ANC é tido como "figura muito poderosa" no seio do antigo movimento de libertação e próximo à fação liderada pelo ex-chefe de Estado Jacob Zuma.
Em novembro de 2020, Ace Magashule defendeu as expropriações de terras e a nacionalização do banco central, considerando que caso contrário o partido no poder na África do Sul "não é um movimento de libertação".
"Não somos um partido político, somos um movimento de libertação", frisou.
Magashule acusou a direção do partido no poder, presidido pelo Presidente Cyril Ramaphosa, de estar a "dividir" a organização política.
"Não estou ao serviço do capital branco, não sou um nativo, não sou não-europeu, não sou não-branco, não sou bantu, não sou negro, sou africano", afirmou Magashule.
"Sou africano e também não sou racista", frisou.
O antigo presidente Jacob Zuma, que liderou o país entre 2009 e 2018, foi pressionado pelo partido no poder a afastar-se antes de terminar o mandato depois de múltiplos escândalos relacionados com corrupção, nomeadamente por envolvimento em operações, supostamente fraudulentas, a favor de um contrato público de aquisição de armamento de mais de dois mil milhões de dólares, em 1999, quando era vice-presidente da República.
O caso arrasta-se na justiça sul-africana há 20 anos, desde 2003.
Ramaphosa, que substituiu Jacob Zuma em 2018, no cargo de presidente do ANC e também de chefe de Estado, voltou a prometer "o retorno à integridade", tanto para o país como para o partido no poder, para revalidar o poder nas eleições de maio do ano seguinte.
Desde então, Ramaphosa e Magashule (da fação mais próxima de Zuma) emergiram como "extremos opostos" no combate à corrupção na administração pública, que tem evidenciado grandes divisões na luta interna pelo poder no ANC e consequentemente pelo controlo do Estado, que o antigo movimento de libertação considera ser uma "extensão" do partido, segundo observadores.
Em outubro de 2019, Ramaphosa afirmou que a corrupção no mandato de Jacob Zuma custou aos cofres do Estado sul-africano mais de 500 mil milhões de rands (27,1 mil milhões de euros).
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