Berlusconi: Críticas a funeral de Estado e dúvidas no futuro da direita
A morte do antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, hoje em Milão, suscitou homenagens e também críticas ao seu funeral de Estado, por ter sido condenado judicialmente, e dúvidas sobre o futuro da direita italiana.
© Reuters
Mundo Óbito/Berlusconi
Federica Panicucci, apresentadora histórica da rede Mediaset, fundada por Berlusconi, anunciou a morte do político e empresário conhecido pelos seus fãs como "O cavaleiro" hoje pelas 10h40 locais (09h40 em Lisboa), com a voz embargada e em lágrimas.
"Temos de vos dar uma notícia terrível, a pior para nós da Mediaset", disse emocionada Panicucci no arranque de uma edição extraordinária do noticiário, dando início a um dia de análise contínua ao impacto da vida de Berlusconi sobre a Itália, ao longo de várias décadas.
Além de uma legião de fás, Berlusconi foi protagonista de divisões políticas no seu partido, julgamentos e 'gafes' internacionais, como quando deixou a chanceler alemã Angela Merkel à espera numa passadeira vermelha enquanto terminava um telefonema.
Peter Gomez, diretor do jornal Fatto Quotidiano, recordou à Lusa que Berlusconi foi condenado por fraude fiscal, que o seu 'braço direito' foi condenado por ligações à máfia e que alegadamente tinha conhecimento da corrupção de um juiz.
"Para mim, Berlusconi não era uma boa pessoa", sublinhou o jornalista do Fatto Quotidiano, um dos jornais historicamente mais hostis ao "Cavaleiro".
"Fiquei espantado com o luto nacional decretado pelo governo. Não foi feito por [Amintore] Fanfani, nem por [Giovanni] Spadolini (dois ex-primeiros-ministros italianos), e eles não foram condenados", adiantou sobre as honras concedidas a Berlusconi, que incluem um funeral de Estado na quarta-feira.
Foi com o coeditor deste jornal, Marco Travaglio, que em 2013 Berlusconi encenou uma verdadeira peça teatral: convidado para um estúdio de TV ao vivo, limpou com um lenço a cadeira onde este jornalista tinha estado sentado antes de si, causando risos e indignação ao mesmo tempo em todo o país.
Silvio Berlusconi, que hoje morreu aos 86 anos, foi uma figura polémica, magnata dos 'media', conservador e de direita e primeiro-ministro de Itália durante nove anos (1994-1995, 2001-2006, 2008-2011).
Foi alvo de acusações de corrupção e esteve no centro de escândalos sexuais que culminariam na sua expulsão do Senado italiano, em 2013.
Em 2022, o multimilionário regressou à ribalta política como senador e líder do partido que fundou, Força Itália, membro da coligação de direita e extrema-direita atualmente no poder, liderada pela primeira-ministra Giorgia Meloni.
Com o agravamento do quadro de Berlusconi, iniciou-se uma discussão no centro-direita sobre a herança do partido e ainda hoje a liderança do Forza Itália veio a público assegurar a continuidade do projeto político do "Cavaleiro".
"Temos o dever, como o Força Itália, de seguir em frente, mesmo que estejamos feridos. Faremos isso novamente sob sua orientação moral e espiritual e continuaremos a trabalhar seguindo as suas indicações", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani.
Mas Berlusconi nunca quis realmente entregar o controlo do seu partido e, portanto, poderá vir de fora do Forza Itália quem assuma o seu legado.
Susanna Turco, jornalista do semanário de centro-esquerda L'Espresso, afirma que a primeira-ministra Giorgia Meloni é a única outra líder de direita capaz de vencer eleições, liderar o governo e dialogar com a elite.
Salvini não pode ser o herdeiro de Berlusconi porque "até agora não conseguiu obter a mesma consideração internacional que Meloni", defende Turco.
Doze horas após a morte do "Cavaleiro", os canais que fundou exibem ainda os momentos mais marcantes da sua carreira como político e empresário, enquanto admiradores passam pela sua casa em Arcore, arredores de Milão, deixando flores e bilhetes.
Os anos em que Berlusconi permaneceu na crista da onda política e empresarial na Itália foram definidos como "berlusconismo" e na enciclopédia 'on-line' Wikipedia este termo é definido como sinónimo de "otimismo empreendedor": "um espírito empreendedor que não se perturba com as dificuldades, confiando em poder resolver os problemas".
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