"É uma tragédia de proporções inimagináveis, também por ser perfeitamente evitável. Pedimos uma investigação urgente, independente e imparcial sobre as causas da catástrofe e o fornecimento de assistência e apoio aos sobreviventes. Existem muitas questões que necessitam de resposta", considerou Adriana Tidona, investigadora sobre o tema das migrações na organização não-governamental (ONG) de direitos humanos.
A demora nas operações de busca e salvamento, as causas do naufrágio da embarcação, que poderia transportar entre 600 a 700 pessoas e a necessidade de transparência, verdade e justiça para os que perderam a vida, os sobreviventes e suas famílias são ainda questões colocadas pela AI.
"Enquanto o mundo aguarda que os sobreviventes desta tragédia tenham a oportunidade de relatar as suas experiências, a Amnistia Internacional está profundamente preocupa com a ausência de clareza na versão das autoridades gregas sobre o incidente", indica o texto.
"A guarda costeira grega informou que pessoas não especificadas 'recusaram' a assistência grega e pretendiam continuar em direção à Itália. No barco encontravam-se centenas de pessoas e não é possível que todas tenham sido consultadas. O Governo grego tem responsabilidades específicas sobre cada pessoa que se encontrava no barco, que estava em dificuldades", prossegue a AI.
Alguns sobreviventes já referiram que o barco colapsou quando a guarda costeira grega tentava rebocá-lo para fora das suas águas territoriais.
"Enquanto é urgentemente necessária uma investigação para esclarecer as circunstâncias do incidente, esta tragédia é a última de uma longa cadeia de naufrágios na Grécia e ao longo da Europa que eram totalmente evitáveis. Os políticos europeus poderiam impedir que acontecesse caso fossem estabelecidas rotas seguras e legais para as pessoas chegarem à Europa. Esta é a única forma de evitar estas tragédias que ocorrem frequentemente".
A AI também apela à Frontex, a Agência europeia da guarda de fronteiras e costeira que forneça informações e imagens aéreas, que considera essencial para reconstruir o incidente, e quando um seu aparelho de vigilância aérea referiu ter detetado a embarcação na manhã de terça-feira.
Ao dirigir-se às autoridades gregas, a ONG também sugere que sejam fornecidos aos sobreviventes e famílias afetadas o necessário apoio psicológico, acesso a formas de comunicar com os seus próximos, acolhimento seguro e um relatório sobre as pessoas desaparecidas.
Segundo os sobreviventes, o barco que terá partido de Tobrouk, na Líbia, em 09 de junho, transportava entre 600 a 700 pessoas, incluindo uma centena de crianças, na maioria de nacionalidade egípcia, síria e paquistanesa.
Este naufrágio é já considerado dos mais graves dos últimos anos entre a África e a Europa. Junta-se a uma série de dramas que desde 2014, e no mar Mediterrâneo, já custaram a vida a mais de 20.000 pessoas, segundo a Organização Mundial das Migrações (OIM).
Em abril passado, a ONU indicou que o primeiro trimestre de 2023 foi o mais mortífero desde 2017: foram registadas pelo menos 441 vidas perdidas, um número ainda longe a realidade segundo a OIM.
Estes números não abrangem o oceano Atlântico, outro cemitério marítimo. Segundo estimativas da ONG espanhola Caminando fronteras, entre 2018 e 2022, 7.865 pessoas provenientes de 31 países, incluindo 1.273 mulheres e 383 crianças, morreram quando tentavam alcançar as ilhas Canárias a partir da África ocidental.
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