Kyiv "perdeu efeito surpresa" mas está a guardar trunfos
Um analista sénior do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) disse hoje estar convencido de que a Ucrânia perdeu o efeito surpresa na contraofensiva, mas ainda tem muitos trunfos para usar num conflito que está longe do seu fim.
© REUTERS/Oleksandr
Mundo Ucrânia/Rússia
"Não houve efeito surpresa. A Rússia soube preparar-se para esta contraofensiva. Mas Kiev ainda não usou grande parte do equipamento que tem destinado para esta fase da guerra", defendeu Mason Clark, analista sénior da equipa sobre a Rússia do ISW, um 'think tank' com sede em Washington, durante uma vídeoconferência em que a agência Lusa participou.
Para este especialista, a Rússia tem sido eficaz em repelir os sucessivos ataques desta contraofensiva, obrigando Kiev a resguardar-se mais do que provavelmente tinha previsto inicialmente.
"Mas também ainda não se viram grandes esforços por parte das forças ucranianas. Acredito que a Ucrânia poderá obter sucessos mais à frente", explicou Clark, que, por isso, disse estar convencido de que o conflito não tem um fim próximo à vista, sendo muito provável que se prolongue para 2024.
Os lentos avanços que Kiev já reconheceu podem ser explicados, segundo este analista, pelo facto de as forças ucranianas estarem a confrontar-se com unidades militares russas muito eficazes e que parecem ter tido tempo para se preparar para esta ofensiva.
Por outro lado, Kiev parece querer guardar equipamento e efetivos para outros momentos desta fase da guerra, tendo para já insistido numa fórmula mista de infantaria e de artilharia, em grande parte treinadas por países-membros da NATO, que procura causar desgaste no lado russo, de acordo com a leitura feita pelos analistas do ISW.
"Apesar de não ter havido um efeito surpresa, em termos estratégicos, vão subsistindo alguma surpresas táticas, que obrigam as forças russas a pequenos recuos", explicou Mason Clark.
Para este especialista do ISW, a impossibilidade de recorrer a meios aéreos por parte da Ucrânia também ajudam a explicar a incapacidade de obter grandes sucessos no campo de batalha.
"Mas a verdade é que a Rússia também não tem tirado proveito da sua supremacia aérea", reconheceu Clark, para quem esta ausência de recurso sistemático a aviões de combate é uma das marcas distintivas deste conflito.
Para Clark, um dos problemas com que as forças comandadas por Moscovo se têm deparado nesta fase é o da insubordinação crescente de grupos de mercenários, que frequentes vezes enfrentam as forças convencionais russas em campo de batalha.
"A maior parte das vezes, esses confrontos devem-se a insatisfação desses mercenários, por discordância com instruções dadas ou por falhas nos compromissos assumidos por parte de Moscovo", disse o analista.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro de 2022 pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
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