A resolução que renova o mandato foi adotada com 15 votos favoráveis de todos os Estados-membros que integram o Conselho de Segurança da ONU, num momento em que uma nova vaga de violência extrema, perpetrada por gangues, afeta Port-au-Prince, a capital do Haiti.
Com a aprovação da resolução, o Conselho de Segurança também autorizou um pequeno aumento - de 42 para 70 -- do número de polícias participantes da missão, visando reforçar o apoio à polícia haitiana.
O texto, que aborda a grave crise de violência e insegurança que o Haiti atravessa, encoraja ainda a BINUH a explorar opções para melhorar o setor de justiça criminal haitiano, de forma a combater a impunidade no país, o mais pobre do hemisfério ocidental.
Desde outubro do ano passado que o Governo haitiano pede a criação de uma força multinacional para auxiliar a polícia local a desmantelar os gangues, responsáveis por atos de extrema violência que incluem sequestros e violência sexual, e a restaurar a segurança no país.
Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, que visitou recentemente o país, tem reiterado esses apelos.
Contudo, até ao momento, o Conselho de Segurança ainda não agiu em resposta a esses pedidos, com nenhum Estado-membro a manifestar disponibilidade para liderar tal missão.
No final da votação, o Reino Unido defendeu que esta resolução "abra caminho para que o Conselho responda ao pedido de apoio de segurança do Haiti no contexto da acentuada deterioração da situação humanitária, política e económica".
Já o representante permanente do Haiti junto às Nações Unidas, Antonio Rodrigue, recordou que o quotidiano dos haitianos permanece marcado pela violência de gangues, por sequestros e pelo aumento das necessidades humanitárias em todo o país.
"A população aguarda uma solução concreta sobre o destacamento de uma força internacional. Não foi esse o caso e há uma grande deceção com esse facto", declarou.
"A ação do Conselho de Segurança é decisiva para reacender a esperança no Haiti e para permitir que as pessoas esperem por um amanhã melhor", insistiu o diplomata.
Na resolução de hoje, o Conselho de Segurança pede também a Guterres que apresente dentro de 30 dias um relatório a detalhar "todo o espetro de opções de apoio que as Nações Unidas podem oferecer para melhorar a situação de segurança" do país caribenho.
Segundo fontes diplomáticas, os Estados Unidos e o Canadá têm liderado as conversações para a criação de uma força multinacional, mas até agora não demonstraram nenhuma intenção de liderá-la e não foi encontrado nenhum país com capacidade e vontade de o fazer.
Além disso, nas últimas semanas, a Rússia e a China mostraram-se céticas quanto à necessidade de criar essa força multinacional.
Mais de 600 pessoas foram mortas no Haiti em abril, numa nova vaga de violência extrema na capital.
Desde o assassinato do Presidente Jovenel Moise em julho de 2021, os gangues no Haiti tornaram-se mais poderosos e violentos.
Em dezembro passado, a ONU estimou que os grupos armados organizados controlavam 60% da capital do país, mas a maioria das pessoas nas ruas de Port-au-Prince diz que esse número está próximo dos 100%.
A par da violência, o país também atravessa uma crise política.
Após o término dos mandatos dos 10 senadores que ainda restavam no Senado, em janeiro passado, o país está totalmente desprovido de instituições democraticamente eleitas.
O Senado era a última instituição democraticamente eleita no país, que não consegue realizar eleições legislativas desde outubro de 2019.
Nos últimos tempos, o país foi também afetado por chuvas torrenciais, um sismo e um surto de cólera.
[Notícia atualizada às 16h48]
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