Quénia. Presidente anuncia proibição de manifestações na próxima semana
O Presidente queniano, William Ruto, anunciou hoje a proibição das manifestações previstas para a próxima semana pela oposição, a última das quais terminou em confrontos e nove mortos, mas que as Nações Unidas estimam em 23 vítimas mortais.
© Lusa
Mundo Quénia
"As manifestações não terão lugar no nosso país", declarou o chefe de Estado queniano, que visitava o condado de Nakuru, a 150 quilómetros da capital Nairobi. "Não aceitaremos a anarquia na República do Quénia", insistiu.
"Não permitiremos" que o líder da oposição Raila Odinga e o antigo Presidente Uhuru Kenyatta, que o apoia, "façam refém" o país, "provocando a violência, o caos e a anarquia", ameaçou Ruto.
O chefe de Estado disse também estar pronto para "encontrar-se" com o veterano líder da oposição, que convocou mais três manifestações para a próxima semana, contra a subida de impostos no país.
A principal coligação da oposição do Quénia, Azimio La Umoja (Aspiração à Unidade, em suaíli), convocou três novos protestos para a próxima semana contra o aumento de impostos no país.
"Depois de ter recebido um número de pedidos esmagador de todos os setores do público queniano sobre a necessidade de intensificar estes protestos, a coligação deseja anunciar um calendário revisto [das manifestações]", anunciou a organização política em comunicado.
"Os protestos pacíficos terão agora lugar na quarta, quinta e sexta-feira da próxima semana", especificou a organização liderada por Odinga.
As manifestações não autorizadas, organizadas pela Azimio em várias cidades - Nairobi e em várias cidades vizinhas, bem como em Mombaça (sul do país), Kisumu e Kisii (oeste) -, foram marcadas por pilhagens e confrontos entre manifestantes e a polícia, que recorreu ao uso de munições reais e a gás lacrimogéneo para dispersar as multidões.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos anunciou hoje ter recolhido informações que dão conta de 23 pessoas mortas e dezenas feridas em protestos no Quénia durante a última semana.
"Estamos alarmados com a violência generalizada e com os relatos de uso excessivo e desnecessário da força, incluindo armas de fogo, por parte da polícia", afirmou em Genebra o porta-voz da agência, Jeremy Laurence.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quénia (KNCHR, na sigla inglesa) calculou em nove o número de mortos nas manifestações convocadas pela oposição para a última quarta-feira, em protesto contra o aumento dos impostos sobre os produtos básicos.
Os protestos foram fortemente reprimidos e "resultaram na perda de pelo menos nove vidas quenianas", nas cidades de Mlolongo, Kitengela e Emali, perto de Nairobi, a capital queniana, bem como em Sondu e Busia (oeste), disse Roseline Odede, presidente da KNCHR, instituição autónoma mas financiada pelo Estado, através de um comunicado.
A KNCHR manifestou-se ainda "horrorizada" com os "disparos irresponsáveis e não provocados de gás (lacrimogéneo) por parte dos agentes", que acabou por invadir uma sala de aula de uma escola do bairro de Kangemi, na zona oeste de Nairobi, e que obrigaram a que mais de 50 alunos fossem transportados para o hospital.
Laurence anunciou ainda que a ONU está a apelar a uma investigação transparente destes acontecimentos, para que os responsáveis sejam levados à justiça e que sejam tomadas medidas concretas para evitar mais vítimas.
A Autoridade Independente de Supervisão da Polícia (IPOA) anunciou na quinta-feira que abriu uma investigação sobre "mortes registadas resultantes de ferimentos por bala".
Ao longo do último ano, o líder da oposição Raila Odinga convocou vários protestos contra o Governo do Presidente queniano, William Ruto, a quem acusa de manipular os resultados das eleições de agosto de 2022.
Odinga, um antigo primeiro-ministro - que obteve 48,85% dos votos -, não reconhece os resultados eleitorais, apesar de o Supremo Tribunal ter rejeitado o recurso que interpôs contra a vitória de Ruto, que obteve 50,49% dos votos, segundo a comissão eleitoral do país.
A tensão e o descontentamento social também aumentaram nas últimas semanas, depois de o Presidente ter aprovado, em 26 de junho, uma nova lei das finanças que, entre outras medidas, duplica o imposto sobre os combustíveis para 16%.
Apesar de a justiça ter suspendido temporariamente a aplicação da lei dias após a sua aprovação, enquanto se aguarda a determinação da sua constitucionalidade, as autoridades mantiveram a implementação do aumento dos impostos sobre a gasolina.
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