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Espanha. Socialistas de "dedos cruzados" ainda acreditam na vitória

Patrícia, de 74 anos, votou "sempre, sempre" no partido socialista espanhol (PSOE) e prometeu hoje à presidente do partido ficar de "dedos cruzados" a fazer figas até domingo, dia das eleições que as sondagens dizem que a esquerda perderá.

Espanha. Socialistas de "dedos cruzados" ainda acreditam na vitória
Notícias ao Minuto

16:24 - 20/07/23 por Lusa

Mundo Espanha

"Cruzamos os dedos e vamos ver o que acontece no domingo", disse no mercado de venda ambulante Fontarron, no bairro de Vallecas, no sul de Madrid, onde hoje a presidente do PSOE, Cristina Narbona, andou em campanha.

Patrícia sabe que a vitória dos socialistas nestas legislativas é difícil, mas como todos os simpatizantes e apoiantes do PSOE que hoje falaram com a Lusa em Valleca considerou que "a balança está equilibrada" e acredita que os socialistas podem ainda vencer.

A presidente do PSOE, candidata a deputada nas listas de Madrid, que são encabeçadas pelo secretário-geral (o líder) do partido e primeiro-ministro, Pedro Sánchez, garantiu à Lusa que nas ruas da cidade, onde tem andado em campanha, tem encontrado militantes e simpatizantes socialistas confiantes num resultado no domingo que mantenha o governo espanhol nas mãos da esquerda.

"Sobretudo hoje, depois do debate de ontem", acrescentou, numa referência ao último debate na televisão entre candidatos nas eleições, na quarta-feira à noite.

No debate esteve Pedro Sánchez, com os líderes da extrema-direita e da extrema-esquerda, mas sem o principal adversário dos socialistas e favorito nas sondagens, Alberto Níñez Feijóo, o presidente do Partido Popular (PP, direita).

Para Cristina Narbona, a recusa de Feijóo em ir ao debate da televisão pública espanhola "é incrível vinda da parte de uma pessoa que aspira a ser presidente do Governo" e revelou que é "um líder sem coragem".

Além disso, o debate "expôs claramente", para Cristina Narbona, as duas opções que há nestas eleições, entre o bloco de "direita e ultra direita" e o da esquerda, que governou Espanha nos últimos cinco anos de forma excecional, defensor "com Portugal de uma Europa forte", com medidas para "ajudar os mais desfavorecidos" ou "impulsionar a economia" com base na designada 'transição verde'.

Narbona, antiga ministra do Ambiente, deu o exemplo das relações de Espanha e Portugal para ilustrar qual é, na sua opinião, a outra opção nas eleições de domingo.

Enquanto ministra, negociou e acordou com o Governo de Lisboa a renovação da Convenção de Albufeira, que regula a gestão dos rios partilhados entre Portugal e Espanha "e que garante a passagem de água" para o território português.

PP e VOX, que poderão formar uma coligação de governo depois das eleições, segundo as sondagens, "estão contra" a manutenção da Convenção de Albufeira e querem "ressuscitar a ideia de haver mais transvases e não chegar tanta água a Portugal", afirmou.

"A vitória do PSOE não é só importante para Espanha, é importante para o conjunto da União Europeia", defendeu.

Cristina Narbona justificou as sondagens negativas para o PSOE, após estes anos de "governo excecional", com o tempo que algumas medidas sociais, como apoios a mais desfavorecidos, demoram "a 'capilarizar'" e a chegar "diretamente ao indivíduo", além de "problemas de comunicação" do governo e de Sánchez, que não respondeu "de forma imediata e contundente" às "mentiras e boatos" que se foram difundindo nas redes sociais, em discursos políticos e nos meios de comunicação.

Sánchez tem apostado nesta campanha em entrevistas nas televisões, nas rádios e 'podcasts', precisamente para "desmontar" as "mentiras e boatos" de que diz ser vítima, deixando a outras figuras do partido, como Narbona, as iniciativas de rua e de maior proximidade com a população.

Por causa da onda calor que tem atingido Espanha, as campanhas de rua começam este ano mais cedo e só conseguem fazer-se durante a manhã, explicou Cristina Narbona, de 71 anos, que chegou hoje ao mercado de Fontarron pouco depois das 11:00, quando as temperaturas já chegavam aos 30ºC.

O dia de hoje da candidata a deputada, como os anteriores, tinha começado às 07:00, em estações de transportes públicos a pedir o voto no PSOE e "contra o VOX" a indecisos (cerca de 20% dos eleitores, segundo as sondagens), a imigrantes e a pensionistas, um grupo de 10 milhões de pessoas que Cristina Narbona espera que se lembre e reconheça os aumentos que teve nas reformas na última legislatura, apesar do voto contra dos partidos da direita.

Foram de facto pensionistas e imigrantes que neste mercado de Madrid se aproximaram da candidata e aceitaram os folhetos e os sacos de compras que tinha para distribuir.

Os pensionistas explicaram o voto, sobretudo, pela fidelidade ao PSOE, enquanto os imigrantes se disseram mobilizados "contra o VOX".

"Estamos contra o VOX porque o VOX está contra nós, os imigrantes. O VOX não me dá medo, dá-me raiva e nojo pela forma como fala de nós", disse Sara, de 49 anos e de origem marroquina, que vive em Espanha desde os 19 e, sublinhou, trabalha e paga impostos, além de já ter a nacionalidade.

Veronica, de 40 anos, nasceu na Bolívia e veio para Espanha aos 17. Trabalha num hotel e, com o filho bebé ao colo, não escondeu à Lusa que é umas das indecisas que Cristina Narbona anda a tentar convencer no mercado.

Mas é uma indecisa entre o PSOE, em quem sempre votou, e o Somar, a plataforma de extrema-esquerda liderada pela ministra do Trabalho, Yolanda Díaz, que lhe aumentou o salário mínimo em 47% nos últimos quatro anos e que aprovou leis que lhe facilitaram o acesso às creches.

Apesar das dúvidas, aceita o saco de compras do PSOE porque "também gosta muito" de Sánchez e pode ser que no domingo ainda lhe dê o voto.

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