JMJ: 10 anos depois do Rio, ficou o "contágio do bem" e um barco-hospital
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) na cidade brasileira do Rio de Janeiro realizou-se há uma década, deixou um legado imaterial na 'cidade maravilhosa' e levou cuidados de saúde até às zonas mais remotas da Amazónia.
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Mundo JMJ2023
Entre 22 e 28 de julho de 2013, com os braços sempre abertos do Cristo Redentor, o Rio de Janeiro acolheu mais de três milhões de pessoas para participarem na 28.ª jornada, num encontro que "marcou bastante a vida na cidade e deixou marcas bastante positivas", recordou, em entrevista à agência Lusa, o cardeal Orani João Tempesta, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro.
O cardeal recorda com "muito carinho os milhões de jovens no Rio de Janeiro que marcaram a cidade com a sua presença, com a sua alegria, com a sua generosidade, em todos os cantos da cidade" e que foram recebidos e acolhidos "com muita generosidade pelos cariocas".
Orani João Tempesta, que também é presidente do Instituto Jornada Mundial da Juventude Rio de Janeiro, enfatizou que passados dez anos deste "entusiasmo da juventude", ficou entranhado na cidade e em todos os que por lá passaram o "espírito de encontro, o espírito de fraternidade, alegria e o contágio do bem".
"Poder abrir a sua casa para alguém que você não conhece é algo que fica na memória para sempre", disse, revelando que muitos dos jovens que marcaram presença na JMJ tiveram diferentes destinos: uns casaram, outros tornaram-se padres.
Desta generosidade surgiu o alicerce para um projeto que viria a mudar a vida de milhares de pessoas nas áreas mais remotas da Amazónia brasileira.
Do dia 24 de julho de 2013, o papa Francisco foi ao Hospital São Francisco, na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro para inaugurar o polo de atendimento de toxicodependentes.
Lá no Hospital, contou Orani João Tempesta, em conversa com a Lusa por telefone, Francisco "pediu para se dar uma atenção à Amazónia".
Dessa conversa surgiu o "projeto do barco hospital, que agora já são três, nascendo justamente no Rio de Janeiro quando o papa visitou o hospital São Francisco".
O Barco Hospital Papa Francisco na Providência de Deus foi inaugurado oficialmente em 17 de agosto de 2019 na cidade de Belém, estado do Pará, e atende mais de 1.000 comunidades ribeirinhas na região amazónica.
Esta embarcação, com 32 metros de extensão, conta com 20 tripulantes fixos e mais 10 voluntários. Tem uma estrutura com consultórios médicos, odontológicos, centro cirúrgico, sala oftalmológica completa, laboratório de análises, sala de medicação, sala de vacinação e leitos de enfermaria, além de equipamentos para diagnósticos, como raio-X digital, mamografia, ecocardiograma, ultrassom e eletrocardiograma. "Graças à jornada", enfatizou.
Ainda assim, todo este legado dez anos depois foi fruto de muito trabalho e de algumas peripécias na organização da JMJ, lembrou o cardeal.
"Tivemos pouco tempo de organização", disse, recordando que o papa Bento XVI queria que a JMJ fosse antes do Campeonato do Mundo de Futebol (2014) e das Olimpíadas (2016).
"Depois foi a mudança do papa", disse, com a renuncia, em fevereiro desse ano, de Bento XVI.
"Muita coisa que tinha sido organizada com orientação do papa Bento XVI teve de se reorganizar segundo orientações da Santa Sé, de acordo com o papa Francisco", naquela que foi, à data, a sua primeira viagem apostólica internacional, explicou o arcebispo.
A JMJ decorreu na época do inverno carioca e durante o evento muito dos planos tiveram que ser alterados de última hora.
Um deles, numa decisão anunciada pelo próprio Orani João Tempesta, foi a missa de encerramento, prevista para o Campo da Fé, em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e que foi transferida para a Praia de Copacabana, na Zona Sul, devido às fortes chuvas que atingiram a localidade que fica a cerca de 50 quilómetros de Copacabana e que transformaram o terreno em lama.
"Os jovens ajudaram a limpar tudo", recordou, com orgulho.
Nesse dia, na famosa Praia de Copacabana, o papa Francisco não deixou de agradecer a resiliência dos jovens.
"Sempre ouvi dizer que os cariocas não gostam do frio e da chuva. Vocês estão mostrando que a vossa fé é mais forte que o frio e a chuva", disse o papa Francisco.
As memórias dessa semana permanecem tão presentes que Orani João Tempesta enviou uma carta ao papa Francisco pela ocasião dos dez anos do evento no Rio de Janeiro.
"O papa respondeu com muita simpatia", disse.
De acordo com a Vatican News, as palavras na carta do arcebispo transportaram "o coração e a mente" do papa "até aqueles dias vividos no meio da juventude do Brasil e do mundo reunida na 'Cidade Maravilhosa'".
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