Chipre. Corrida contra o tempo para ajudar a fechar "capítulo negro"

A eurodeputada portuguesa Isabel Santos, relatora permanente do Parlamento Europeu para as pessoas desaparecidas em Chipre, admite enfrentar uma corrida contra o tempo para ajudar as famílias a virar "um capítulo negro" das suas vidas e da história da ilha.

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© Pedro Granadeiro / Global Imagens

Lusa
26/07/2023 08:24 ‧ 26/07/2023 por Lusa

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Chipre

Nomeada relatora permanente há apenas três semanas, a deputada da delegação do PS efetuou uma visita de quatro dias a Chipre, concluída na segunda-feira, tendo explicado, numa entrevista telefónica à Lusa, que uma das razões para ter efetuado já esta deslocação de trabalho é porque precisamente não há tempo a perder, até porque a atual legislatura está prestes a chegar ao fim, dado haver eleições europeias em junho do próximo ano.

"Nós já quase não temos mandato [...] O meu esforço nos próximos tempos será um esforço de tentar unir vontades, de forma a que se possa chegar a um resultado o mais rapidamente possível e se possa encerrar, tanto quanto possível, este problema, até porque sabemos que o tempo é nosso inimigo. À medida que o tempo passa, vai sendo mais difícil [fazer] descobertas significativas", assinala Isabel Santos.

Lembrando que, "ao longo dos anos, o Parlamento Europeu foi sempre acompanhando esta questão", e que a União Europeia é "o maior e mais duradouro doador" para o funcionamento do Comité para as Pessoas Desaparecidas em Chipre (CMP), criado em 1981 por acordo entre as comunidades cipriota grega e cipriota turca e sob os auspícios das Nações Unidas (ONU), a deputada diz que o seu objetivo é tentar contribuir para, "pelo menos", voltar a chamar a atenção para este problema e ajudar a criar "algumas pontes de diálogo que possam ajudar a desbloquear" as investigações.

A República de Chipre, reconhecida pela comunidade internacional e membro da União Europeia desde 2004, controla a parte sul da ilha, cerca de dois terços do território.

A República Turca Chipre do Norte, autoproclamada em 1983, é apenas reconhecida pela Turquia, que mantém milhares de soldados nessa região após a invasão militar de 1974, justificada por uma tentativa fracassada de golpe que pretendia a união da ilha à Grécia.

Das 2.002 pessoas dadas como desaparecidas como resultado dos combates étnicos entre as comunidades cipriota grega e cipriota turca (1963 e 1964) e da invasão do norte da ilha pelas forças militares turcas em 1974, permanecem por encontrar e identificar os restos mortais de 769 cipriotas gregos e de 200 cipriotas turcos, sendo que no último ano e meio só foram identificados 10 corpos.

"O decorrer do tempo vai tornando a missão cada vez mais difícil e importa que, da nossa parte, também haja uma reflexão e uma avaliação para explorarmos as melhores vias, trazer um novo ímpeto ao tratamento deste caso", diz a deputada, sublinhando que tudo "o que as famílias pedem é que se consiga descobrir os restos mortais dos seus entes queridos e que lhes sejam devolvidos", pois "a falta de conhecimento do que aconteceu, a falta de um corpo para velar e fazer o luto e o seu funeral" não lhes permite seguir em frente.

"De ambas os lados, de ambas as comunidades, a cipriota turca e cipriota grega, o sentimento é o mesmo: a única coisa que pedem, de facto, é que se proceda à descoberta e identificação e entrega dos restos mortais", reforça.

Segundo Isabel Santos, "é importante haver uma maior fluidez na disponibilização de documentação e do acesso aos locais", eliminando a muita burocracia que rodeia estes processos.

"Esta não é uma questão política, e isto tem de ser entendido de ambos os lados. Não se pode estar a politizar esta questão, que deve ser tratada como uma questão humanitária, porque é de facto uma questão humanitária", sustenta, apontando que em causa está "a preservação da dignidade da memória daqueles que já morreram, e dar às famílias a possibilidade de encerrarem um capítulo negro da sua vida, que é também um capítulo negro na vida do país, e com isso trazer também alguma pacificação".

Maria Leontiou Georgiou, representante da Organização dos Familiares das Pessoas Desaparecidas da Comunidade (cipriota grega) de Assia, aldeia ocupada pelas forças turcas em agosto de 1974, afirmou à Lusa esperar que o papel da relatora permanente "seja catalisador para chamar a atenção do Parlamento Europeu e da UE em geral para a questão humanitária das pessoas desaparecidas em Chipre".

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