Quase metade da população do Sudão enfrenta crise alimentar
Três meses e meio de guerra sangrenta no Sudão obrigaram quase quatro milhões de pessoas a fugir das suas casas, enquanto quase metade dos habitantes do país enfrenta atualmente uma crise alimentar, alertaram hoje as Nações Unidas.
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Mundo Sudão
"Mais de 20,3 milhões de pessoas, ou seja, mais de 42% da população do país", que totaliza 48 milhões de habitantes e é um dos mais pobres do mundo, enfrentam uma "insegurança alimentar aguda", anunciou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), através de um comunicado de imprensa.
O número de pessoas que fugiram para o estrangeiro devido aos combates no Sudão ronda os 930.000, enquanto o número de deslocados no país ultrapassa os 3 milhões, segundo os últimos dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Para a FAO, as deslocações causadas pela guerra entre o exército sudanês, liderado pelo general Abdel Fattah al-Burhane, e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, estão a contribuir para o agravamento da insegurança alimentar.
A guerra destruiu infraestruturas e paralisou o setor agrícola num país em que, antes da guerra, um em cada três sudaneses já sofria de fome. Atualmente, mais de metade dos sudaneses precisa de ajuda humanitária para sobreviver e as ONG e a ONU dizem que lhes é negado o acesso.
De acordo com a FAO, "6,3 milhões de sudaneses já se encontram numa situação de emergência (fase 4) da Classificação da Fase de Segurança Alimentar (FSC) da ONU, enquanto a fase 5, a mais elevada, corresponde a uma situação de fome".
No Darfur Ocidental, onde a violência é mais intensa e os civis são visados devido à sua etnia, "mais de metade da população está a sofrer de fome aguda", segundo a agência da ONU.
Em Cartum, os combates continuam a marcar a vida quotidiana de vários milhões de habitantes que se encontram fechados em casa, sujeitos a uma grave escassez de água, alimentos e eletricidade, sob um calor sufocante.
Um porta-voz do exército declarou hoje na televisão que os ataques aéreos tinham "matado e ferido dezenas de rebeldes" no sul da capital.
Em 2021, os dois generais depuseram conjuntamente os civis com quem partilhavam o poder desde a queda, em 2019, do ditador islamita Omar al-Bashir.
Mas surgiram divergências sobre a integração dos paramilitares no exército e, desde o início do conflito, o general Daglo acusou o exército de querer apressar o retorno de membros do partido do Congresso Nacional de Bashir, agora proibido.
Hoje, o grupo paramilitar voltou a acusar o exército de "conspirar" com o antigo regime.
O exército está a "encobrir" as atividades dos funcionários do Congresso Nacional, alguns dos quais fugiram da prisão nas primeiras semanas do conflito para "retomar o poder", denunciaram as RSF.
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