Líbéria deve julgar criminosos de guerra para poder "ter paz"
A antiga Prémio Nobel da Paz Leymah Gbowee afirmou hoje que a Libéria não pode avançar se não julgar os antigos criminosos de guerra, na celebração dos 20 anos do acordo que terminou com a guerra civil.
© Artur Widak/NurPhoto via Getty Images
Mundo Libéria
"Hoje em dia, os liberianos continuam a dizer que temos paz sem compreenderem que é urgente resolvermos a questão da justiça", declarou a liberiana Leymah Gbowee, Prémio Nobel da Paz em 2011, falando numa cerimónia na capital, Monróvia, para comemorar o 20.º aniversário do Acordo de Paz de Acra, assinado em agosto de 2003.
A guerra civil na Libéria, que custou 250.000 vidas entre 1989 e 2003, foi um dos conflitos mais atrozes do continente africano, envolvendo massacres, mutilações, violações, canibalismo e o recrutamento forçado de crianças-soldado, conforme relata a agência Efe.
Até à data, não foi realizado qualquer julgamento na Libéria sobre os abusos então cometidos, mas vários foram realizados na Suíça, França e Estados Unidos da América.
As recomendações da Comissão da Verdade e Reconciliação (TRC) em 2009 foram amplamente ignoradas, inclusive em nome da manutenção da paz, com alguns dos senhores da guerra incriminados considerados "heróis" pelas suas comunidades.
Muitas figuras envolvidas no conflito ainda ocupam cargos económicos e políticos importantes, como os senadores Prince Johnson e George Borley, citados entre uma longa lista de autoridades no relatório da TRC.
"Continuaremos a ter uma política tóxica porque não damos prioridade à paz", disse.
"Não houve reparação nem responsabilidade pelo que aconteceu connosco durante as guerras civis", afirmou Peterson Sonyah, um sobrevivente do massacre da Igreja Luterana de São Pedro, em 1990, no qual cerca de 600 pessoas foram mortas.
"Perdemos nossos amigos, nossos pais e nossas mães, mas até hoje não houve julgamento", lamentou.
O presidente liberiano, George Weah, num evento separado, não fez novos compromissos.
"A guerra veio, éramos todos inocentes, aconteceu. Queremos voltar?", questionou. "Não", respondeu, dizendo que "muitas pessoas no país levaram o crédito pela paz" quando não o mereciam.
Para Hassan Bility, da organização não-governamental Global Justice and Research Project, a ausência de justiça é "uma tática" para ganhar tempo: "Você não pode esperar até que todos os perpetradores ou vítimas estejam mortos antes de querer estabelecer um tribunal".
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