Fukushima começou a lançar água para o oceano. Há críticas (e um apelo)
"Irresponsável" e "arriscada" foram duas palavras usadas para descrever esta ação decidida pelo Japão. Há quase 12 anos e meio, um sismo e tsunami causaram uma fusão nuclear em Fukushima.
© Getty Images
Mundo Fukushima
Passados quase 12 anos e meio após a fusão nuclear de março de 2011 em Fukushima Daiichi, causada por um forte sismo e tsunami, começou hoje o lançamento para o oceano das águas residuais radioativas tratadas e diluídas da central nuclear - uma decisão polémica que já levou a fortes reações internacionais, nomeadamente da China, Coreia do Sul, Hong Kong e Macau.
As críticas a esta decisão - que teve o aval final do primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, e foi anunciada oficialmente na passada terça-feira - começaram logo anteontem, com a China a acusar o Japão de descarregar arbitrariamente água contaminada da central nuclear danificada de Fukushima no mar.
"O oceano é propriedade de toda a humanidade, não é um lugar onde o Japão possa descarregar arbitrariamente água contaminada", afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, em conferência de imprensa, pedindo ainda ao país que "abandonasse este plano".
No mesmo dia, o chefe do executivo de Hong Kong, John Lee, garantiu que a descarga é "irresponsável" e "arriscada". O responsável pediu também aos departamentos governamentais daquela região administrativa especial chinesa que imponham controlos sobre os produtos de origem aquática provenientes do Japão, para "garantir a segurança alimentar e a saúde" da população.
Uma reação surgiu ainda da parte de Macau que, horas após o anúncio, anunciou a proibição de importação de alguns alimentos de dez províncias do Japão. Esta abarca produtos frescos, incluindo vegetais, frutos, carne, ovos e laticínios de 10 regiões do norte e centro da ilha de Honshu, incluindo de Fukushima e da capital, Tóquio.
Mas... já começaram as descargas de Fukushima
O operador de Fukushima Daiichi, a Tokyo Electric Power Company Holdings (TEPCO), anunciou hoje o arranque do lançamento para o oceano das águas residuais radioativas tratadas e diluídas da central nuclear.
Num vídeo transmitido ao vivo da sala de controlo da central, a TEPCO mostrou um membro da equipa a ligar a bomba que descarrega as águas para mar às 13h03 (05h03 em Lisboa), três minutos após o início da etapa final, num processo que poderá prolongar-se até 2050.
A bomba enviou o primeiro lote de água diluída e tratada de uma piscina de mistura para uma piscina secundária, a partir da qual a água é libertada no oceano, a um quilómetro da costa, através de um túnel submarino.
A operadora pretende libertar 31.200 toneladas de água tratada até ao final de março de 2024, o que esvaziaria apenas 10 dos cerca de mil tanques de armazenamento, embora o ritmo de descarga deva aumentar mais tarde.
Depois da descarga... as reações (e um apelo)
Depois do início da operação, o primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck Soo, apelou ao Japão para que divulgue de forma transparente informações sobre as descargas de água tratada. "Apelo ao Governo japonês para que publique informações sobre as descargas de água de forma transparente e responsável durante os próximos 30 anos", disse, denunciando também "informações falsas" e demagogia em torno da decisão do Japão.
Por sua vez, em Seul, na Coreia do Sul, mais de 10 pessoas foram detidas por tentarem entrar na embaixada japonesa durante uma manifestação para denunciar a descarga de água de Fukushima no mar.
Outra reação veio da China, com a suspensão da importação de produtos aquáticos de origem japonesa, de forma a "prevenir o risco de contaminação radioativa". A suspensão aplica-se a todos os produtos de origem aquática, incluindo peixe, mariscos, moluscos, crustáceos e algas.
Concentração de trítio "abaixo" do esperado, assegura AIEA
Por fim, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) anunciou que a concentração de trítio na água da central nuclear de Fukushima está bem abaixo do limite esperado.
"Especialistas da AIEA recolheram esta semana amostras das águas preparadas para as primeiras descargas", afirmou num comunicado o órgão da ONU que supervisiona a operação. "A análise realizada de forma independente no local confirmou" que a concentração da substância radioativa trítio estava "bem abaixo do limite operacional de 1.500 becquerel (Bq) por litro".
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