"Se somos de facto uma família global, hoje parecemos uma família bastante disfuncional. As divisões estão a crescer, as tensões estão a explodir e a confiança está a diminuir, o que, em conjunto, levanta o espetro da fragmentação e, em última análise, do confronto", disse António Guterres aos jornalistas em Nova Deli, palco, no fim de semana, da cimeira do Grupo dos 20 Países Mais Industrializados do Mundo (G20).
Para Guterres, o mundo, tal como está, "não pode continuar assim", advertindo também para a falta de união dos países face aos problemas globais pode levar a uma "catástrofe".
"Vim ao G20 com um apelo simples, mas urgente: não podemos continuar assim. Temos de nos unir e agir em conjunto para o bem comum", disse Guterres durante uma conferência de imprensa na capital indiana.
O secretário-geral da ONU explicou que o mundo está em transição e que o futuro é multipolar, mas as instituições multilaterais "refletem uma era passada", com uma arquitetura financeira global "obsoleta, disfuncional e injusta" que, na sua opinião, precisa de uma "reforma estrutural profunda".
"O mesmo se pode dizer do Conselho de Segurança das Nações Unidas", acrescentou, apelando novamente à reforma deste órgão, que nasceu no final da Segunda Guerra Mundial.
Guterres apelou aos líderes do G20 para que demonstrem liderança em dois domínios específicos: a luta contra as alterações climáticas e a manutenção dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável definidos pelas Nações Unidas no âmbito da Agenda 2030.
O G20 reúne 19 das maiores economias do mundo e a União Europeia, representando 85% do PIB mundial e dois terços da população mundial.
Mas as grandes divergências sobre a guerra da Rússia na Ucrânia e a forma de ajudar as economias emergentes a combater o aquecimento global são suscetíveis de impedir quaisquer acordos na cimeira de dois dias em Nova Deli.
"Esta fragmentação seria profundamente preocupante no melhor dos tempos. Mas, no nosso tempo, é uma catástrofe", insistiu Guterres.
Sobre a crise climática, Guterres recordou que os países do G20 são responsáveis por 80% das emissões poluentes a nível mundial e sublinhou que "meias medidas não evitarão um colapso climático".
Por isso, apelou à manutenção do objetivo de manter o aumento das temperaturas globais abaixo de 1,5 graus Celsius, a progressos na transição para uma economia verde e à implementação de um pacto de solidariedade climática em que os países mais ricos ajudem os emergentes a reduzir as suas emissões.
"Temos de atuar em conjunto, como uma família, para salvar a nossa única Terra e salvaguardar o nosso único futuro", concluiu.
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