Arménia e EUA realizam exercícios militares para desagrado de Moscovo
A Arménia e os Estados Unidos iniciaram hoje exercícios militares conjuntos, iniciativa que ilustra o aprofundamento das divisões entre este país do Cáucaso, tradicional aliado de Moscovo, e a Rússia, em pleno conflito ucraniano.
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Mundo Exercícios militares
Os exercícios 'Eagle Partner 2023', que decorrem até 20 deste mês, visam "aumentar o nível de interoperacionalidade" das forças norte-americanas e arménias envolvidas em operações de manutenção da paz.
Segundo Washington, 85 soldados norte-americanos pertencentes ao comando militar norte-americano para a Europa e África, vão treinar ao lado de 175 soldados arménios" nos centros de Zar e Armavir, perto de Erevan.
Moscovo não vê com bons olhos estes exercícios e, sexta-feira, convocou o embaixador arménio na capital russa, denunciando-os como "medidas inamistosas".
Domingo, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, sublinhou que a Rússia não via "nada de bom nas tentativas de penetração no Cáucaso por parte de um membro agressivo da NATO", a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Mas, em Erevan, reina a frustração perante a incapacidade da Rússia para apoiar a Arménia contra o Azerbaijão e a falta de envolvimento das forças de paz russas no conflito entre os dois vizinhos rivais do Cáucaso, que travaram duas guerras pelo controlo da região de Nagorno-Karabakh, que disputam há décadas.
As tensões entre Baku e Erevan agravaram-se nos últimos meses, com o Azerbaijão a bloquear o corredor de Lachine, a única estrada que liga a Arménia a Nagorno-Karabakh, causando grandes constrangimentos às importações.
A Rússia, que tem um contingente de forças de manutenção da paz no terreno, não conseguiu conter a crise e tem sido repetidamente acusada pela Arménia de inação.
"Ao depositar as suas esperanças nos russos, a Arménia ficou a perder, tendo em conta o que nos está a acontecer. Vamos tentar agora com os norte-americanos", disse à AFP Mariam Anahamian, 27 anos, residente em Erevan.
"A Rússia não honrou os seus compromissos durante a guerra e até piorou a nossa situação", acusou Arthour Khatchadourian, um guarda de segurança de 51 anos.
O primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian, afirmou que Moscovo "não pode ou não quer manter o controlo do corredor de Lachine", admitindo que a dependência de Erevan da Rússia em matéria de segurança foi um "erro estratégico".
"Os arménios estão frustrados com a Rússia, que não os ajudou durante a guerra de Nagorno-Karabakh nem a lidar com as suas consequências", resumiu o analista independente Arkadi Doubnov, acrescentando que Moscovo "também parece não ter um plano claro ou uma estratégia no Cáucaso".
Envolvida na guerra na Ucrânia e isolada na cena internacional, "uma Rússia enfraquecida está a perder rapidamente influência no seu quintal da era soviética", acrescentou.
A última guerra entre Baku e Erevan, em 2020, terminou com a derrota da Arménia, que teve de ceder território ao Azerbaijão no Nagorno-Karabakh e arredores.
Apesar de a Rússia ter negociado um cessar-fogo no outono de 2020 e de ter colocado as suas forças de manutenção da paz no Nagorno-Karabakh, a sua influência sobre os beligerantes está a meio caminho.
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos assumiram a liderança da mediação entre os rivais do Cáucaso, embora não se tenham registado quaisquer progressos até à data.
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