De acordo com um relatório da FAO, cerca de 20,3 milhões de sudaneses, ou seja, mais de 42% da população, estão em situação de insegurança alimentar grave, quase o dobro do número registado em maio de 2022. Deste número, cerca de 6,3 milhões de pessoas - 13 por cento da população - estão em níveis de emergência.
A FAO lançou um plano de resposta de emergência para prestar ajuda às comunidades do Sudão afetadas pela guerra que eclodiu em 15 de abril entre o exército e as Forças de Apoio Rápido (FAR, paramilitares), devido a divergências sobre a integração destas últimas nas forças armadas.
A organização pretende chegar a 10,1 milhões de agricultores com sementes, gado, apoio veterinário e reforço da adoção de boas práticas agrícolas, para o que pede 123 milhões de dólares (114,7 milhões de euros).
Quatro meses após o início dos combates, o conflito estendeu-se à região do Darfur e a partes dos Estados do Cordofão e do Nilo Azul, reacendendo a violência intercomunitária e provocando deslocações generalizadas", explica a agência no relatório.
"Os combates continuam a ameaçar a segurança alimentar e a nutrição de milhões de pessoas, agravando um ecossistema já de si muito frágil", afirma a FAO, acrescentando que "a destruição de infraestruturas críticas, incluindo sistemas de água e redes de comunicações, está a ter impactos devastadores em todo o Sudão".
No texto sublinha-se que "a utilização de tanques, artilharia e bombardeamentos está a causar a destruição de infraestruturas vitais, incluindo casas, infraestruturas de comunicações, empresas, hospitais e bancos, impedindo simultaneamente a reabilitação ou o acesso a infraestruturas e serviços essenciais".
O número de pessoas deslocadas internamente aumentou "dramaticamente", com cerca de 4,4 milhões de deslocados e um milhão de refugiados, recorda o relatório, assinalando o "grande impacto" no setor agrícola da deslocação massiva das populações.
À circunstância da guerra junta-se a dos "preços elevados e a escassez de materiais essenciais, como combustível, sementes e fertilizantes", acrescenta-se no relatório.
A agência afirmou ainda que a violência sexual e baseada no género "aumentou significativamente" desde o início do conflito e avisou que, "à medida que o conflito no Sudão continua sem qualquer indicação de cessação, a situação humanitária em todo o país continua a deteriorar-se".
"Milhões de pessoas no Sudão estão a enfrentar uma batalha pela sobrevivência em face ao agravamento da crise de segurança alimentar", disse o representante da FAO no Sudão, Hongjie Yang, citado no texto.
O Sudão mergulhou no caos há cinco meses, quando se transformaram em guerra aberta as tensões há muito latentes entre os militares, liderados pelo general Abdel Fattah al-Burhan, e as FAR, comandadas por Mohamed Hamdan Dagalo, ex-número 2 no Conselho Soberano - a junta militar que tomou o poder no país no golpe que depôs o antigo ditador Omal al-Bashir em abril de 2019.
Os combates reduziram a capital do Sudão, Cartum, a um campo de batalha urbano, sem que nenhuma das partes tenha conseguido obter o controlo da cidade.
Na região ocidental do Darfur - palco de uma campanha genocida no início da década de 2000 - o conflito transformou-se em violência étnica, com as FAR e milícias árabes aliadas a atacarem grupos étnicos africanos, segundo grupos de defesa dos direitos humanos e as Nações Unidas.
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