Zelensky será "estrela" da UNGA deixando líderes não-ocidentais na sombra
A presença de Volodymyr Zelensky na Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA, na sigla em inglês) da próxima semana concentrará atenções no Presidente ucraniano, desviando-as das prioridades de "infelizes" líderes não-ocidentais, anteveem analistas ouvidos pela Lusa.
© Roman Pilipey/Getty Images
Mundo Ucrânia/Rússia
Esta é a opinião de Richard Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz, que acredita que, com Zelensky em Nova Iorque, "a Ucrânia dominará mais uma vez a Assembleia Geral".
"Nem toda a gente ficará feliz com isso. Em teoria, o foco principal deste ano serão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os países mais pobres queriam realmente aproveitar esta sessão da Assembleia para concentrar a atenção internacional nos seus problemas, como o crescente peso da dívida", disse.
"Mas se Zelensky estiver em Nova Iorque, ele atrairá a atenção da imprensa. Muitos líderes darão prioridade à oportunidade de tirar fotos com Zelensky em vez da diplomacia do desenvolvimento", anteviu Gowan, que é diretor do departamento da ONU no 'International Crisis Group', uma organização não-governamental (ONG) voltada para a resolução e prevenção de conflitos armados internacionais.
Nesse sentido, "existe o risco de muitos líderes não-ocidentais se sentirem infelizes se a Ucrânia desviar a atenção dos seus próprios problemas, como a dívida e o desenvolvimento", acrescentou.
O secretário-geral António Guterres confirmou na semana passada a presença na UNGA do Presidente ucraniano, nesta que seria a primeira vez de Zelensky nas Nações Unidas.
No ano passado, a semana de alto nível das Nações Unidas ocorreu pouco mais de seis meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, pelo que Zelensky optou por não sair do seu país e discursou no debate da Assembleia Geral da ONU através de uma mensagem de vídeo pré-gravada.
Para Sarah Cliffe, diretora do Centro de Cooperação Internacional da Universidade de Nova Iorque, a comunicação presencial de Zelensky fará a diferença.
"É uma oportunidade para o Presidente Zelensky transmitir diretamente o impacto da invasão. Igualmente importante seria a oportunidade de ele ouvir as opiniões dos líderes africanos, latino-americanos e asiáticos sobre a guerra", defendeu Cliffe, em entrevista à Lusa.
Enquanto a Ucrânia deverá ser representada pelo seu chefe de Estado, a Rússia enviará o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, para participar nas reuniões de alto nível da UNGA.
Existe assim a possibilidade de Zelensky e Lavrov se cruzarem numa reunião do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia convocada pela Albânia para 20 de setembro.
Sobre esse eventual encontro, Sarah Cliffe recordou que no ano passado, numa reunião do Conselho de Segurança, Lavrov insultou Zelensky - que não se encontrava presencialmente no evento - e abandonou a sala do órgão.
"Faíscas semelhantes são possíveis este ano", anteviu a especialista, que já foi conselheira especial e secretária-geral adjunta de Capacidades Civis das Nações Unidas.
Já o palpite de Richard Gowan é que Lavrov se recusará a entrar na câmara do Conselho de Segurança enquanto Zelensky estiver a falar, e "o Presidente ucraniano provavelmente fará o mesmo".
"Se Zelensky e Lavrov ficarem cara a cara, poderá ser um momento eletrizante. Mas Zelensky deveria evitar entrar em conflito público com Lavrov, pois isso poderia deixar outros líderes nervosos", observou.
Independente disso, "Zelensky será a estrela do show", segundo Gowan, que acredita que a Assembleia Geral será uma grande oportunidade para o líder ucraniano ficar frente a frente com líderes de países não-ocidentais.
"Acredito que Zelensky elaborará a sua mensagem para atrair um público principalmente não-ocidental. É provável que enfatize como a Rússia minou a segurança alimentar global ao abandonar o Acordo dos Cereais do Mar Negro e ao atacar os portos ucranianos", disse à Lusa.
Para o analista, que já lecionou na Escola de Relações Públicas e Internacionais da Universidade de Columbia e Stanford, em Nova Iorque, Zelensky tentará ainda angariar apoio para algumas das prioridades diplomáticas da Ucrânia, como a criação de um tribunal apoiado pela ONU para julgar o seu homólogo russo, Vladimir Putin.
"Os líderes ocidentais aplaudirão Zelensky de pé. Mas ele descobrirá que outros líderes, como o Presidente do Brasil, Lula da Silva, enfatizarão a necessidade de um fim negociado para a guerra", acrescentou.
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