Reino Unido adia proibição de carros a combustão
O Reino Unido vai prolongar por mais cinco anos, até 2035, a venda dos automóveis com motores de combustão e abandonar outras medidas para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, anunciou o primeiro-ministro britânico.
© Lusa
Mundo Rishi Sunak
Rishi Sunak muda assim o prazo estabelecido há apenas três anos pelo antecessor, Boris Johnson, que queria proibir a venda de veículos novos movidos exclusivamente a gasóleo ou gasolina a partir de 2030 no país.
O chefe do Governo defendeu esta "nova abordagem" com a necessidade de ser "honesto com a população sobre as escolhas difíceis e os sacrifícios em causa".
"Não é justo que Westminster imponha custos tão significativos aos trabalhadores, especialmente aos que já estão a lutar para fazer face às despesas, e interfira tanto no estilo de vida das pessoas", argumentou.
Sunak também revelou que o Governo já não vai impor impostos sobre as viagens de avião ou sobre a carne bovina nem forçar os britânicos a reciclar mais.
Mesmo assim, Sunak mantém a promessa de reduzir as emissões de gases de efeito estufa do Reino Unido para atingir a neutralidade carbónica até 2050, meta incluída na legislação em 2019.
O Governo tem-se vangloriado de que o Reino Unido é líder na redução das emissões de carbono, 46% em relação aos níveis de 1990, principalmente graças à eliminação quase total do carvão da produção de eletricidade.
O executivo tinha-se comprometido a reduzir as emissões em 68% em relação aos níveis de 1990 até 2030.
Os construtores de automóveis que investiram fortemente na transição para veículos elétricos manifestaram frustração perante a mudança de planos do Governo.
O presidente da Associação de Construtores e Comerciantes de Automóveis, Mike Hawes, afirmou que "os consumidores têm de querer fazer a mudança, o que exige do Governo uma mensagem clara e coerente, incentivos atrativos e infraestruturas de carregamento que transmitam confiança e não ansiedade", mas que "a confusão e a incerteza só os vai fazer recuar".
A diluição das promessas ambientais é vista como uma manobra para tentar atrair os eleitores perante a crise do aumento do custo de vida na aproximação às eleições legislativas, previstas para 2024.
As sondagens dão ao partido de centro-direita, no poder desde 2010, 20 pontos de desvantagem relativamente ao 'Labour'.
A vitória apertada na eleição parlamentar parcial de Uxbridge e South Ruislip pelos conservadores, em julho, fez com que alguns membros do partido apelassem ao líder para repensar os seus compromissos climáticos.
O próprio Partido Trabalhista admitiu que a introdução da Zona de Emissões Ultra Baixas em Londres pelo autarca do 'Labour' Sadiq Khan influenciou a derrota por cerca de 500 votos.
A mudança de política, antecipada pela BBC, suscitou críticas por parte de opositores políticos, grupos ambientalistas, grande parte da indústria britânica e de membros do Partido Conservador.
"Não nos podemos dar ao luxo de vacilar agora ou de perder a nossa ambição para este país", afirmou Boris Johnson.
Alok Sharma, que presidiu à conferência internacional sobre o clima COP26, em Glasgow, avisou que seria "incrivelmente prejudicial (...) se o consenso político que forjámos no nosso país sobre o ambiente e a ação climática se fraturasse".
"E, francamente, não acredito que vá ajudar eleitoralmente qualquer partido político que opte por seguir este caminho", disse à BBC.
Pelo contrário, outros conservadores acreditam que a eliminação das políticas ambientais pode ganhar votos e evitar a derrota dos 'tories' nas legislativas.
"Não vamos salvar o planeta levando o povo britânico à falência", enfatizou a ministra do Interior, Suella Braverman.
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