A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) afirmou, num comunicado, que vinte anos após a invasão, "não há um caminho claro para a compensação dos iraquianos que sofreram abusos durante a sua detenção pelas forças dos Estados Unidos", já que o Governo norte-americano "aparentemente não forneceu" qualquer tipo de reparação.
"As autoridades norte-americanas declararam que preferem deixar a tortura no passado, mas os efeitos a longo prazo da tortura continuam a ser uma realidade diária para muitos iraquianos e as suas famílias", afirmou a diretora da HRW em Washington, Sarah Yager.
Entre 2003 e 2009, os Estados Unidos e os seus aliados da coligação internacional detiveram cerca de 100 mil iraquianos, muitos dos quais foram vítimas de tortura e maus-tratos, especialmente na prisão de Abu Ghraib, dirigida por tropas norte-americanas, recordou-se no comunicado. Esta prisão foi palco de graves abusos físicos, psicológicos e também sexuais.
De acordo com um relatório do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) publicado em 2004 e dirigido à coligação militar, entre 70 e 90% das pessoas foram detidas por engano pelas tropas internacionais.
Neste mesmo ano, Bush pediu desculpas pela "humilhação sofrida pelos prisioneiros iraquianos" em Abu Ghraib e, pouco depois, o então secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, prometeu compensar as vítimas de "abusos cruéis e graves nas mãos de alguns poucos membros das forças armadas dos EUA", lembrou a HRW.
No entanto, a organização observou que "não encontrou provas de que o Governo dos Estados Unidos tenha pagado qualquer compensação" às vítimas e que Washington também "não emitiu desculpas individualmente".
Algumas das vítimas tentaram solicitar indemnização através da Lei de Reclamações Estrangeiras dos EUA (FCA), mas segundo a HRW apenas uma pessoa recebeu 1.000 dólares por ter sido "detida ilegalmente", sem qualquer menção à tortura.
A Divisão de Investigação Criminal do Exército dos EUA abriu mais de 500 investigações sobre supostos abusos entre 2003 e 2005, incluindo mais de 370 casos de agressão, 90 mortes, 34 roubos e seis casos de agressão sexual supostamente cometidos por tropas dos EUA.
Vinte anos após a invasão, a HRW lamentou que, depois de publicar em agosto de 2022 um plano para reduzir os danos a civis em operações militares, o Pentágono não tenha planeado incluir "qualquer forma de compensação por casos passados de danos a civis".
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