Segundo as autoridades talibãs, o terramoto de sábado fez mais de 2.000 mortos de todas as idades e géneros na província de Herat.
O epicentro situou-se no distrito de Zenda Jan, onde 1.294 pessoas morreram, 1.688 ficaram feridas e todas as habitações foram destruídas, de acordo com dados da ONU.
O chefe da delegação da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em Herat, Siddig Ibrahim, afirmou ser mais provável as mulheres e as crianças estarem em casa quando se registou o sismo, de manhã.
"Quando ocorreu o primeiro sismo, as pessoas pensaram que era uma explosão e correram para as suas casas", explicou.
Centenas de pessoas - na maioria, mulheres - continuam desaparecidas em Zenda Jan.
O representante para o Afeganistão no Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA, na sigla em inglês), Jaime Nadal, disse que não teria havido uma discrepância no género das vítimas mortais se o sismo tivesse acontecido de noite.
"A essa hora do dia, os homens estavam no campo", observou Nadal, acrescentando também que "muitos homens migram para o Irão para trabalhar", ao passo que "as mulheres estavam em casa a fazer as tarefas domésticas e a tomar conta das crianças" e "ficaram presas debaixo dos escombros", pelo que concluiu que "houve claramente uma dimensão de género".
O primeiro sismo, muitas réplicas e um segundo abalo de magnitude 6,3 na quarta-feira arrasaram aldeias inteiras, destruindo centenas de casas de adobe incapazes de resistir a tal força. Escolas, centros de saúde e outras estruturas das aldeias também se desmoronaram.
O Conselho Norueguês para os Refugiados (CNR) descreveu a devastação como imensa.
"Os primeiros relatos das nossas equipas são de que muitos dos que perderam a vida foram crianças pequenas que ficaram esmagadas ou asfixiadas quando os edifícios desabaram sobre elas", afirmou o CNR.
A maternidade da província de Herat apresenta brechas que tornam a estrutura insegura, pelo que o UNFPA forneceu tendas para as grávidas terem um lugar onde possam ficar e receber cuidados, referiu Nadal.
Muitas pessoas dentro e fora da capital provincial continuam a dormir ao relento, apesar da descida das temperaturas.
O impacto desproporcionado do sismo sobre as mulheres deixou as crianças sem mães, as suas principais cuidadoras, levantando questões quanto a quem irá criá-las ou como reuni-las com os pais, que poderão estar fora da província ou mesmo do país.
Os responsáveis da ajuda humanitária afirmam que os orfanatos são inexistentes ou raros, o que significa que as crianças que perderam um ou ambos os pais serão provavelmente acolhidas por familiares sobreviventes ou por membros da comunidade.
Os tremores de terra são comuns no Afeganistão, onde existem várias linhas de fratura e movimentos frequentes entre três placas tectónicas próximas.
As mulheres poderão correr maior risco de estar impreparadas para sismos, devido aos decretos dos talibãs que coartaram a sua mobilidade e os seus direitos, bem como às restrições impostas a trabalhadores humanitários do sexo feminino, alertou um relatório da ONU.
As autoridades proibiram as raparigas de frequentar a escola para além do sexto ano e impediram as mulheres de trabalhar em organismos não-governamentais - embora haja exceções para alguns setores, como os cuidados de saúde - e de se deslocar sem a companhia de um homem, que tem de ser da família.
As agências de assistência humanitária afirmam que as suas funcionárias afegãs estão, "por enquanto", a trabalhar livremente em Herat e a ajudar as mulheres e raparigas afetadas pelos terramotos.
A UNICEF emitiu um apelo para a angariação de 20 milhões de dólares (cerca de 19 milhões de euros) para ajudar as 13.000 crianças e famílias que se estima tenham sofrido consequências dos sismos.
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