"Cerca de 500 camiões atravessavam Gaza por dia antes do início das hostilidades. Nos últimos dias, entraram em média apenas 12 camiões por dia, apesar de as necessidades serem muito maiores do que em qualquer momento anterior", disse Guterres, frisando que o sistema humanitário em Gaza enfrenta um "colapso total com consequências inimagináveis" para mais de dois milhões de civis.
Além disso, a ajuda que entra no enclave não inclui combustível para as operações das Nações Unidas, que é também essencial para abastecer hospitais, fábricas de dessalinização de água, produção de alimentos e distribuição de ajuda, mas cuja entrada está vetada por Israel, que argumenta que poderá cair nas mãos do grupo islamita Hamas.
Dada a grave situação humanitária, as Nações Unidas não serão capazes de continuar a entregar ajuda dentro da Faixa de Gaza sem uma mudança imediata e fundamental na forma como a ajuda está a chegar, frisou o líder da organização num comunicado oficial.
Nesse sentido, o ex-primeiro-ministro português pediu que o sistema de verificação da circulação de mercadorias através da passagem de Rafah seja ajustado para permitir que o número de camiões que entra em Gaza seja bastante superior.
"Todos devem assumir as suas responsabilidades. Este é um momento de verdade. A história está a julgar-nos a todos", afirmou.
"Temos de satisfazer as expectativas e as necessidades fundamentais dos civis em Gaza. A ajuda humanitária vital -- alimentos, água, medicamentos, combustível -- deve poder chegar a todos os civis de forma rápida, segura e em grande escala", acrescentou Guterres.
Após uma dura semana para o líder da ONU, cuja demissão foi exigida pelo Governo israelita após ter dito que os ataques do Hamas "não aconteceram do nada", Guterres aproveitou para enaltecer o crescente consenso global em prol de pausas humanitárias no conflito e repetiu o seu apelo por um cessar-fogo humanitário, pela libertação incondicional de todos os reféns e pela entrega de bens vitais "na escala necessária".
"A miséria está a crescer a cada minuto. Sem uma mudança fundamental, o povo de Gaza enfrentará uma avalanche de sofrimento humano sem precedentes", salientou.
O grupo islamita Hamas lançou em 07 de outubro um ataque surpresa contra o sul de Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados, fazendo duas centenas de reféns.
Em resposta, Israel declarou guerra ao Hamas, movimento que controla a Faixa de Gaza desde 2007 e que é classificado como terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, bombardeando várias infraestruturas do grupo na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
O conflito já provocou milhares de mortos e feridos, entre militares e civis, nos dois territórios.
[Notícia atualizada às 18h20]
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