Igreja quer mais mulheres 'a decidir' e equaciona diaconato feminino
O Sínodo da Igreja Católica, composto por bispos e laicos, defende maior presença e responsabilidade das mulheres nos processos de decisão, abrindo a porta ao estudo do diaconato feminino, segundo o documento final do encontro divulgado hoje no Vaticano.
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"É urgente garantir que as mulheres possam participar nos processos de decisão e assumir papéis de responsabilidade na pastoral e no ministério", lê-se no documento de 42 páginas, publicado hoje à noite, depois de ter sido submetido à votação de 365 membros do Sínodo, incluindo o Papa.
Resultado de quase um mês de debate, este documento consultivo, aprovado por maioria de dois terços, é apresentado como "um marco" antes da segunda assembleia geral católica, a realizar em outubro de 2024, no Vaticano.
O texto refere que, durante as sessões, as mulheres participantes, que pela primeira vez tiveram voz e voto num Sínodo, afirmaram que "o clericalismo, o machismo e o uso inapropriado da autoridade continuam a marcar o rosto da Igreja".
Entre as questões a abordar no futuro, é expressa "a exigência de um maior reconhecimento e valorização do contributo das mulheres e de um aumento das responsabilidades pastorais que lhes são confiadas em todos os domínios da vida e da missão da Igreja".
No entanto, após este mês de discussões, não são dadas respostas sobre como incluir as mulheres em certos espaços dedicados apenas aos padres e, apesar dos muitos pedidos de grupos de mulheres e freiras católicas, o texto nem sequer menciona a possibilidade de estudar o sacerdócio feminino.
O texto explica também que houve uma divisão sobre o acesso das mulheres ao diaconato, que já existe para os homens e que consiste em poder exercer uma série de ministérios na Igreja, apesar de não serem ordenadas.
"Alguns consideram que este passo seria inaceitável, pois estaria em descontinuidade com a tradição. Para outros, no entanto, conceder às mulheres o acesso ao diaconato seria restaurar uma prática da Igreja primitiva", lê-se no documento.
No mesmo texto, os bispos exortam a Igreja a ouvir e a não discriminar "as pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas devido ao seu estado civil, identidade e sexualidade", mas não propõem qualquer abertura nestas matérias, apelando apenas para que se passe "o tempo necessário" a refletir sobre estas questões.
"De diferentes formas, as pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja devido ao seu estado civil, à sua identidade e à sua sexualidade pedem também para serem escutadas e acompanhadas, e para verem defendida a sua dignidade", lê-se no texto do qual desapareceu a referência a "pessoas LGBTQ+", que constava do documento de trabalho que serviu de base à assembleia.
No entanto, o documento ressalva que, "embora a escuta exija uma aceitação incondicional, isso não significa abdicar da clareza na apresentação da mensagem evangélica de salvação, nem endossar qualquer opinião ou posição".
O Sínodo considera que "alguns temas, como os relacionados com a identidade de género e a orientação sexual, o fim da vida, as situações matrimoniais difíceis e as questões éticas relacionadas com a inteligência artificial são controversos não só na sociedade, mas também na Igreja, porque levantam novas questões".
E, por isso, afirma-se que "é necessário um estudo mais profundo" sobre estas matérias, adiando qualquer decisão e propondo que se promovam iniciativas para um "debate partilhado sobre questões doutrinais, pastorais e éticas controversas".
O documento sublinha também que "a Igreja deve escutar com especial cuidado e sensibilidade as vozes das vítimas e dos sobreviventes de abusos sexuais por parte de membros do clero ou de pessoas com nomeações eclesiais".
O Vaticano acolhe desde 04 de outubro e até domingo este encontro, um dos mais importantes da Igreja Católica, para refletir sobre o futuro e que contou com a presença de 464 participantes, 364 com direito a voto, e pela primeira vez com a participação de leigos, entre os quais 54 mulheres.
O documento, que foi aprovado com mais de dois terços dos votos, está dividido em temas que propõem "convergências", "questões a tratar" e "propostas" e será a base de trabalho ao longo do próximo ano, antes da sessão final em outubro de 2024.
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