O caso ocorreu na sexta-feira, por volta das 09:00 da manhã, quando os agentes da polícia socorriam quatro líderes comunitários da localidade de Muagiua, em Gurué, que estavam a ser agredidos por populares acusados de propagar cólera na região, disse Sidner Lonzo, porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM), na Zambézia.
Quando a polícia se retirava do local, depois de resgatar os líderes, um dos quais ferido com gravidade, a população "agitou-se novamente" e desatou a "arremessar pedras, paus e até algumas flechas" contra os agentes, ferindo quatro, um com gravidade, que foi socorrido no Hospital Distrital onde veio a perder a vida, disse Sidner Lonzo.
O porta-voz da polícia avançou que foram detidas oito pessoas envolvidas na agressão dos quatro líderes comunitários e dos quatro agentes da polícia, referindo que ainda decorrem investigações para a identificação de outras pessoas.
"Ainda estamos no terreno para mais averiguações e se possível trazer mais pessoas à responsabilidade por este crime", referiu Sidner Lonzo.
A violência com base em crenças e rumores relacionados com a cólera está enraizada nos meios rurais.
Em maio, populares espancaram até à morte um residente, também no distrito de Gurué, depois de acusarem um familiar de propagar cólera, disse, na altura, à Lusa a corporação.
No mesmo distrito, em junho, a polícia moçambicana deteve quatro pessoas suspeitas de vandalizarem e incendiarem residências, cujos proprietários eram também alvos de crenças populares de propagarem cólera na Zambézia.
As autoridades de Saúde da província da Zambézia, no centro de Moçambique, declararam hoje surtos de cólera em três distritos, com um cumulativo de 499 pessoas internadas devido à doença.
Os surtos foram registados nos distritos de Gilé, Mocuba e Gurué, este último com o maior número de casos, contabilizando 300 internados.
A cólera é uma doença que provoca fortes diarreias, que é tratável, mas que pode provocar a morte por desidratação se não for prontamente combatida.
A doença é causada, em grande parte, pela ingestão de alimentos e água contaminados por falta de redes de saneamento.
Em maio, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou que o mundo terá um défice de vacinas contra a cólera até 2025 e que um bilião de pessoas de 43 países podem ser infetadas com a doença, apontando, já em outubro, Moçambique como um dos países de maior risco.
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, situação que agrava a resistência de infraestruturas e serviços que permitam evitar a doença.
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