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"Estão a ser forçados a desligar as máquinas", diz médico que deixou Gaza

Raúl Incertis esteve no enclave palestiniano durante um mês.

"Estão a ser forçados a desligar as máquinas", diz médico que deixou Gaza
Notícias ao Minuto

20:13 - 06/11/23 por Notícias ao Minuto

Mundo confli

Raúl Incertis foi o primeiro espanhol a fugir da Faixa de Gaza após o escalar do conflito israelo-palestiniano. Agora, recorda os "bombardeamentos intermináveis", "os gritos terríveis das crianças" a que assistiu e alguns desafios que os hospitais daquele enclave palestiniano enfrentam.

Preso desde o início da guerra na Faixa de Gaza, onde trabalhava no hospital de Al Adwa para os Médicos Sem Fronteiras (MSF), este anestesista, de 40 anos, conseguiu abandonar Gaza no dia 1 de novembro, deixando para trás um horror de bombas, sangue e milhares de vidas devastadas.

Ao que noticia o El Mundo, Incertis nunca tinha vivido nada assim até agora, apesar de estar habituado a trabalhar em zonas de conflito (esteve recentemente no Afeganistão e no Iémen).

Chegou a Gaza a 1 de outubro, uma semana antes do início da ofensiva, com uma "missão relativamente simples": realizar cirurgias ortopédicas e reconstrutivas nas pernas de muitos habitantes de Gaza. Isto porque quando se aproximaram do muro que separa Israel de Gaza para atirar pedras aos soldados, estes responderam disparando contra os seus tornozelos "com balas especiais para causar o máximo de danos e mutilações possíveis".

Após vários dias no hospital de Al Adwa, terminou o serviço na sexta-feira, dia 6, e deu um passeio na praia da Faixa de Gaza: "Calmo, tranquilo, um sítio muito bonito". No dia seguinte, rebentou o conflito.

Nessa altura, passou mais três dias no apartamento partilhado por vários trabalhadores dos Médicos Sem Fronteiras. Na terça-feira, foram transferidos para a cave do edifício da ONU, para se protegerem dos bombardeamentos contínuos.

"Pensava que a pior noite de todas tinha sido a de segunda-feira, dia 9, para terça-feira, dia 10, mas cada noite era pior do que a anterior, com bombardeamentos intermináveis". Incertis frisou que nunca esquecerá "os gritos aterradores das crianças" a cada bombardeamento.

Depois de Israel ter exigido que a população abandonasse o norte de Gaza e viajasse para o Sul, Incertis e outros trabalhadores de organizações internacionais foram enviados para campos de refugiados no sul da Faixa.

"No primeiro dia que chegamos ao campo, que era um Instituto de Formação Profissional, havia 300 refugiados. No dia seguinte, eram 10 mil; e três dias depois, eram 35 mil pessoas", deu conta.

Durante os dias que passou em Gaza sob as bombas e a terrível situação sanitária no país, o anestesista recorda especialmente as situações nos hospitais, onde os médicos são obrigados a 'desligar' alguns doentes que precisam de equipamento externo para sobreviver, a fim de poupar energia e, assim, salvar outros doentes, uma vez que a eletricidade dos geradores não chega a todos.

"Os médicos estão a ser forçados a desligar as máquinas de respiração mecânica a algumas pessoas, dependendo do paciente que tem mais hipóteses de sobreviver, do grau dos seus ferimentos ou da sua idade", afirmou.

Ao que revelou Incertis, "a grande maioria dos feridos que chegavam têm queimaduras provocadas pelas bombas e não havia ligaduras". Neste tipo de feridas, "é preciso retirar o tecido morto e limpar a zona de vez em quando, o que [lá] tem de ser feito sem analgésicos e sem ligaduras. "É muito perigoso porque aparecem infeções", acrescentou ainda.

De recordar que já morreram mais de nove mil pessoas na Faixa de Gaza, na sequência da ofensiva lançada pelas forças israelitas em resposta aos ataques do Hamas de 7 de outubro.

Leia Também: IGAS instaurou 89 processos sobre assédio desde janeiro de 2020

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