"O surgimento de fome na Faixa de Gaza, em consequência da grave escassez de alimentos e de bens de primeira necessidade, confirma que a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, está a urdir um malicioso plano destinado a esvaziar a Faixa de Gaza e a deslocar a sua população para o Egito, o que é rejeitado pelo nosso povo", indicou o gabinete de imprensa do Governo palestiniano do movimento islamita Hamas, numa mensagem na plataforma digital Telegram.
"Consideramos a comunidade internacional e a ocupação israelita totalmente responsáveis pela degradação da situação humanitária e pela falta de alimentos nos mercados e lojas da Faixa de Gaza, uma vez que concordaram com a aplicação de uma política de fome contra o povo palestiniano", afirmaram as autoridades do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas).
Entretanto, segundo a agência EFE, entraram hoje na Faixa de Gaza através do cruzamento de Rafah vários camiões carregados com ajuda humanitária, 50.000 litros de combustível e equipamentos para instalar um hospital de campanha jordano.
O combustível é necessário em Gaza para o funcionamento de hospitais, padarias e unidades de dessalinização de água. Segundo a ONU, são necessários pelo menos 160 mil litros de combustível diários para cobrir as necessidades básicas dos 2,2 milhões de habitantes da Faixa.
Segundao a EFE, ascendem agora a nove os camiões cisterna que entraram no enclave desde que Israel permitiu o acesso de combustível na quinta-feira passada, sob pressão internacional.
Está prevista para hoje a saída de Gaza de um novo grupo de estrangeiros e de palestinianos com dupla nacionalidade. De acordo com dados fornecidos pelo Centro de Imprensa do Egito, um total de 6.713 estrangeiros e 929 egípcios foram retirados de Gaza desde início do conflito.
No comunicado hoje divulgado, o Hamas emitiu um apelo aos países árabes da região para "que assumam as suas responsabilidades e abram permanentemente o posto [de Rafah, na fronteira com o Egito] antes que ocorra uma verdadeira catástrofe humanitária".
"De dia para dia, a situação humanitária piora e deteriora-se de uma maneira sem precedentes. A situação no terreno está a tornar-se mais desastrosa e pior que qualquer coisa que a Faixa de Gaza tenha antes vivido (...) As lojas têm falta de alimentos básicos como farinha, óleo e arroz", lamentaram.
Cerca de 2,4 milhões de pessoas enfrentam esta situação, à medida que aumenta o número de deslocados internamente, o que gera uma "procura crescente de produtos básicos", desencadeando "o surgimento de fome e a propagação de doenças e epidemias", sustentou o executivo de Gaza.
Além disso, a difícil situação humanitária na Faixa de Gaza "esgotou claramente todos os recursos dos hospitais e de todo o pessoal governamental e não-governamental que continuamente trabalha no terreno, ao que se somam o frio e as chuvas", refere ainda o texto.
A 07 de outubro, combatentes do Hamas -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.200 mortos, na maioria civis, cerca de 5.000 feridos e mais de 200 reféns.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 45.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 13.000 mortos, na maioria civis, e mais de 30.000 feridos, de acordo com o mais recente balanço das autoridades locais, e 1,7 milhões de deslocados, segundo a ONU.
[Notícia atualizada às 17h51]
Leia Também: Gaza? Amnistia Internacional quer possíveis crimes de guerra investigados