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Nova técnica de recolha de corações para transplante divide médicos

Alguns profissionais de saúde defendem que o procedimento vai encurtar as listas de espera e salvar mais pessoas, outros garantem que o método viola a "regra do doador morto".

Nova técnica de recolha de corações para transplante divide médicos
Notícias ao Minuto

15:34 - 22/11/23 por Notícias ao Minuto

Mundo EUA

Um novo método para recolher corações de doadores de órgãos está a dividir a classe médica e a reacender o debate sobre a linha ténue que separa a vida e a morte num hospital.

A nova técnica é defendida pelo centro médico académico NYU Langone Health de Manhattan, nos Estados Unidos, que, segundo o New York Times, realizou-a, pela primeira vez, em 2020. Contudo, é rejeitada pelo NewYork-Presbyterian Hospital, a unidade hospitalar com o maior programa de transplantes da cidade.

Se for colocado em prática de forma ampla, realça o jornal norte-americano, o método irá aumentar significativamente o número de corações disponíveis para transplante, salvando vidas. No entanto, ainda levanta algumas barreiras éticas.

Nova técnica expande significativamente os potenciais doadores

Atualmente, a maioria dos corações doados pertencem a pessoas declaradas em morte cerebral, ou seja, que sofreram um evento traumático, como um acidente de carro, que as fez perder todas as funções do cérebro, de forma irreversível. Apesar de estarem em morte encefálica, permanecem ligadas às máquinas de suporte de vida para que o coração bata e o sangue circule, levando oxigénio aos órgãos, até que uma equipa de transplante retire todos os órgãos.

A nova técnica, dizem os cirurgiões de transplante, expande significativamente os potenciais doadores, uma vez que pode ser utilizada em pacientes que estão em coma, mas não em morte cerebral, e cujas famílias aceitaram retirar o suporte de vida porque há poucas hipóteses de sobrevivência.

Hoje em dia, explica o The New York Times, só quando o coração destes pacientes pára é que o óbito é atestado, o que faz com que os corações destes possíveis doadores não possam ser utilizados para transplantes, uma vez que foram danificados pela falta de oxigénio que decorre durante a morte.

O que a NYU Langone Health defende é que, quando o coração começar a parar, o fluxo sanguíneo seja restaurado, deixando o órgão viável para um transplante, um procedimento que levanta, segundo alguns profissionais de saúde, duas questões éticas.

A linha ténue que separa a vida da morte

Primeiro porque ao restaurar o fluxo sanguíneo isso faz com que o atestado de óbito seja considerado inválido. Segundo - o ponto que levanta mais controvérsia entre os cirurgiões - se é necessário cortar o fluxo sanguíneo para o cérebro, de forma a evitar que qualquer atividade cerebral seja reativada é porque o doador "pode não estar legalmente morto".

"É uma coisa meio assustadora de se fazer", disse um cirurgião cardíaco de longa data e especialista em transplantes, Dr. V. Eric Thompson, num painel de discussão sobre o procedimento, na Escola de Medicina de Yale.

Algo sustentado pelo American College of Physicians, que explica que "cortar o acesso de sangue ao cérebro para garantir a morte cerebral enquanto se restaura a circulação sanguínea parece violar a regra do doador morto", um princípio fundamental do transplante de órgãos nos EUA para garantir que a recolha de órgãos não é a causa da morte de um doador.

Novo procedimento já salvou dezenas de pessoas

Apesar de a técnica ser controversa, a NYU Langone Heath já usou o novo procedimento para retirar quase 30 corações de pacientes que, de outra forma, não seriam viáveis, tal como assegurou o Dr. Nader Moazami, cirurgião de transplantes da clínica ao jornal nova-iorquino.

Para este profissional de saúde, as críticas ao método vêm de especialistas em ética que passam "pouco tempo com pacientes presos durante anos em listas de espera".

"Se vocês estão preocupados com a ética nestes casos é porque nunca tiveram de entrar numa sala e dizer a um paciente e à família que ele está a morrer porque não há um coração para lhe dar. Alguém que tenha passado por isso não me diz que o que faço é anti-ético", atirou.

Entretanto, o método já é utilizado por outros hospitais como o Vanderbilt Medical Center, em Nashville.

Só nos EUA, existem 103.237 pessoas à espera de um transplante. 17 morrem todos os dias à espera de um órfão. A maioria aguarda por um rim ou fígado.

Os transplantes de coração são raros. Todos os anos, cerca de 20% dos pacientes que aguardam na lista de espera por um novo coração morrem ou são retirados da lista de espera porque ficaram demasiado tempo há espera. Nos EUA são realizados cerca de 3.500 transplantes deste órgão por ano.

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