Numa carta enviada hoje à agência EFE, a Greenpeace e os cientistas salientam que os cidadãos africanos "estão a sentir o calor e a viver a seca, a instabilidade do abastecimento e dos preços dos alimentos, a ebulição dos oceanos e o impacto da diminuição das florestas".
"O mundo está a arder, literalmente", escrevem.
"As inundações (...), os ciclones e os incêndios florestais estão a tornar-se menos previsíveis e mais intensos, destruindo vidas e deslocando dezenas de milhares de pessoas à medida que a crise climática se agrava", acrescentam.
Na carta, os cientistas lamentam que África seja um dos locais mais vulneráveis do mundo a este fenómeno e sublinham que partes do continente já registaram, entre 1900 e 2000, um aquecimento de 2 graus Celsius acima da era pré-industrial, o limite estabelecido pelo Acordo de Paris (2015).
Além disso, com o aumento contínuo das emissões de gases com efeito de estufa, a temperatura média anual de África deverá aumentar cerca de 6 graus Celsius até ao final deste século, alertaram.
"Espero que, no final da COP28, tenham sido adotadas resoluções que garantam que o fundo de perdas e danos da ONU e os planos nacionais de adaptação sejam financiados por receitas provenientes dos principais responsáveis pela crise climática e com maior capacidade de pagamento, em particular a indústria dos combustíveis fósseis", afirmou um dos signatários, o ambientalista Corneille Ewango Ekokinya, da Universidade de Kisangani, na República Democrática do Congo (RDCongo).
Face a esta situação, os cientistas apelam aos governos africanos para que acelerem os esforços no sentido de eliminar gradualmente os investimentos "dispendiosos e destrutivos" em combustíveis fósseis no continente e para que ponham termo à exploração de petróleo e gás.
Os cientistas e a Greenpeace lançaram esta mensagem depois de o Quénia ter acolhido a primeira Cimeira Africana sobre o Clima (ACS), em setembro passado, onde cerca de 20 chefes de Estado e de Governo africanos e líderes de organizações internacionais procuraram chegar a acordo sobre as suas exigências antes da COP28, o principal fórum político para enfrentar a crise climática.
O alerta surge um dia depois da emissora britânica BBC ter denunciado que o presidente da COP28, Ahmed Al Jaber, que é também presidente do conselho de administração da empresa petrolífera estatal de Adu Dhabi, pretender usar o seu papel na conferência climática para fazer acordos sobre combustíveis fosseis.
Um porta-voz da COP28, que começa na quinta-feira e vai até 12 de dezembro, respondeu que "os documentos referidos pela BBC são inexatos e não foram utilizados pela COP28 em nenhuma reunião".
A investigação da BBC baseia-se em documentos recolhidos por jornalistas do Centre for Climate Reporting (CCR).
Os documentos, cuja autenticidade o CCR insiste ter verificado, foram obtidos através de um "denunciante" que se manteve anónimo por receio de represálias, disse o CCR.
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