"Saudamos o sucesso [da coligação liderada por] Vucic", disse o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, acrescentando que a Rússia espera "que a trajetória de fortalecimento da amizade e cooperação [entre os dois países] continue".
"Estamos a acompanhar a questão de muito perto", garantiu, ressalvando, de imediato, que se trata de "um assunto interno da Sérvia".
O Presidente sérvio, em funções desde 2017, reivindicou no domingo à noite a vitória do seu partido (SNS, direita nacionalista) nas eleições legislativas, votação encarada como um "referendo" à sua pessoa.
Segundo Vucic, a sua coligação obteve mais de 46% dos votos e alcançou uma "maioria absoluta" ao conquistar 129 dos 250 assentos no parlamento.
O segundo partido mais votado, a coligação Sérvia Contra a Violência, obteve 23,6% dos votos e terá 65 assentos no hemiciclo nacional.
Esta força política garantiu ter conseguido documentar 450 irregularidades durante a votação.
Observadores eleitorais e meios de comunicação independentes alertaram para algumas situações ocorridas durante o escrutínio realizado no domingo.
Sérvios provenientes da Bósnia a votar em mesas de voto não oficiais e um ataque a uma equipa de monitorização no norte da Sérvia foram algumas das situações relatadas.
Estas eleições aconteceram após a erosão política produzida por crises violentas que dominaram o país desde as eleições anteriores, em abril de 2022, e que serviram de alerta à coligação de Vucic, já que perdeu 68 assentos em relação à sua vitória esmagadora de junho de 2020.
No ano passado, a Sérvia já estava imersa num perigoso ressurgimento de tensões de longa data com o Kosovo e a União Europeia (UE) e ainda não tinha sofrido o catalisador dos atuais protestos contra o Presidente: dois tiroteios em maio deste ano que provocaram 19 mortos, 10 dos quais numa escola em Belgrado.
Estes acontecimentos não relacionados acabaram por unir a oposição na coligação Sérvia contra a Violência.
Esta coligação, que agrega as principais forças pró-Europa, exigia, desde maio, a convocação de legislativas antecipadas na sequência dos dois graves incidentes.
Moscovo e Belgrado mantêm relações históricas e a Sérvia, que aspira a aderir à UE, condenou nas Nações Unidas o ataque russo à Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, recusou-se a participar nas sanções contra Moscovo.
Belgrado conta com o apoio da Rússia - e da China - no Conselho de Segurança da ONU para evitar que o Kosovo, a sua antiga província que proclamou independência em 2008, obtenha um lugar dentro da organização internacional.
Muitas vezes acusado de fazer o jogo do Kremlin na Europa, Aleksandar Vucic, de 53 anos, falou, no final de agosto, na Grécia com o seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, cujo país nunca reconheceu a independência do Kosovo.
Os ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, têm uma visão negativa das boas relações entre a Rússia e a Sérvia, onde parte da população apoia Moscovo e partilha a sua visão crítica da NATO.
No início de novembro, o diretor dos serviços de informações sérvios (BIA) e um reconhecido apoiante da ligação com Moscovo, Aleksandar Vulin, demitiu-se do cargo, quatro meses depois de ter sido alvo de sanções norte-americanas pelo seu alegado envolvimento no "crime organizado transnacional".
Washington também o acusou de ajudar a Rússia a ampliar a sua influência nos Balcãs, em detrimento da segurança regional.
Próximo do Presidente Vucic, Vulin foi um dos raros líderes políticos europeus que foi a Moscovo, como ministro do Interior, após o início da ofensiva militar russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
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