O primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero, apresentou de surpresa o Plano de Estabilização Macroeconómica, comparecendo perante a Assembleia Nacional (Parlamento de câmara única) depois de o Presidente Miguel Díaz-Canel ter caracterizado a situação como uma "economia de guerra".
O plano procura cortar gastos do Estado aumentando os preços limitados pelo Estado e reduzir o custo dos subsídios nos cofres públicos, passando de um modelo que subsidia produtos para um que apoia financeiramente grupos vulneráveis.
Sobre o cabaz alimentar, Marrero explicou que o objetivo é conseguir "um esquema mais justo e eficiente" para "não deixar ninguém desamparado", reconhecendo tacitamente o aumento das desigualdades sociais e económicas no país liderado pelo Partido Comunista Cubano (PCC), um partido único.
"Não é justo que quem tem muito receba o mesmo que quem tem muito pouco. Hoje subsidiamos o mesmo tanto a um idoso reformado como a um dono de grande negócio privado que tem muito dinheiro", defendeu.
Marrero frisou ainda que será fundamental a identificação dos grupos vulneráveis com base em critérios objetivos, tarefa que foi confiada ao Ministério do Trabalho e Segurança Social, e que pode durar meses.
Serão estes grupos que poderão continuar a adquirir produtos subsidiados com uma carteira de abastecimento cada vez mais escassa e afetada por atrasos.
O primeiro-ministro garantiu ainda que, face à situação, o Estado não pode continuar com o desperdício em alguns subsídios, como água, eletricidade, gás natural, transportes e combustíveis.
Entre estes aumentos destaca-se a subida em 25% na tarifa de eletricidade para os 6% do setor residencial que mais consome ou a mudança para cobrar aos turistas o combustível em moeda estrangeira. O preço da botija de gás aumentará 25%.
Marrero anunciou ainda que "serão aplicadas novas tarifas" aos serviços públicos de transporte de passageiros, mas sem detalhar os aumentos.
Anunciou também que no próximo ano o Governo alterará a taxa de câmbio oficial do peso em relação ao dólar, para o qual foi criado um grupo de trabalho com o Banco Central de Cuba.
O primeiro-ministro também deixou a porta aberta para um corte na força de trabalho do Estado. Esta revisão, explicou, procura garantir uma "gestão eficiente" e terá uma lei própria de organização da administração central do Estado, sobre a qual já estão a ser feitos trabalhos.
Nos últimos dias, vários dados macroeconómicos surgiram nos preparativos da sessão ordinária da Assembleia Nacional e a maioria deles abunda na tendência negativa da economia cubana. A ilha está atolada numa crise multifacetada.
O Governo cubano estima agora que o produto interno bruto (PIB) contraia entre 1% e 2% em 2023, depois de ter previsto um crescimento de 3% no início do ano.
Cuba está mergulhada numa grave crise há três anos, com escassez de produtos básicos (alimentos, combustíveis e medicamentos), inflação galopante, apagões frequentes e 'dolarização' parcial da economia, o que estimulou uma migração e agitação social sem precedentes.
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