Na conclusão da visita a Pequim do primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, o analista russo Vassili Kachin destacou ao jornal Izvestia a aproximação que as relações diplomáticas e económicas entre os dois países têm registado, sobretudo desde que Moscovo foi alvo de sanções internacionais por ter invadido a Ucrânia em fevereiro de 2022.

"O mercado russo foi o que mais cresceu, este ano, na China, que está a tentar negociar mais com países politicamente amigáveis, a fim de fortalecer a sua segurança", disse Kachin, diretor do Centro de Estudos Europeus e Internacionais.

"As opiniões de Moscovo e Pequim sobre as relações internacionais coincidem em muitos aspetos. E após o início da operação especial na Ucrânia e a recusa dos países ocidentais em cooperar política e economicamente com a Rússia, a China converteu-se num dos principais parceiros externos de Moscovo", adiantou.

Em termos de relações comerciais e económicas, Pequim é já o primeiro parceiro russo, enquanto a Rússia é o quarto maior parceiro chinês.

Após um encontro com Mikhail Mishustin, o Presidente chinês, Xi Jinping, voltou a frisar na quarta-feira que manter relações robustas com a Rússia é uma "escolha estratégica".

A China recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. O país asiático tem prestado importante apoio político, diplomático e económico à Rússia. O comércio bilateral atingiu 200 mil milhões de dólares (mais de 182 mil milhões de euros) nos primeiros 11 meses do ano.

Oficialmente, as relações sino-russas são descritas como uma "parceria abrangente e interação estratégica na nova era", de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia.

Em artigo publicado pela Rádio Ásia Livre, a analista Luna Pham registou que Putin e Xi se encontraram 42 vezes nos últimos 10 anos.

Putin visitou a China 22 vezes, mais do que qualquer outro líder mundial. Por sua vez, Xi visitou a Rússia nove vezes, mais do que qualquer outro país. A última vez que Xi esteve em Moscovo foi em março, na sua primeira viagem ao exterior desde que foi reeleito para um inédito terceiro mandato.

Uma declaração conjunta sobre o 20º aniversário do tratado bilateral, em 2021, afirmava já que as relações russo-chinesas "chegaram ao mais alto nível na sua história".

"As relações russo-chinesas são baseadas na igualdade, profunda confiança mútua, compromisso com o direito internacional, apoio na defesa dos interesses fundamentais uns dos outros, os princípios de soberania e integridade territorial", refere a declaração.

Em Pequim, na terça e quarta-feira, Mikhail Mishustin encontrou-se com Xi Jinping e o seu homólogo, Li Qiang.

Mishustin chamou a atenção para o facto de os dois países terem 80 projetos conjuntos em andamento e que mais de 90% dos pagamentos são já feitos em rublos e yuan, respetivamente as moedas russa e chinesa, evitando o recurso ao dólar dos Estados Unidos, país de que ambos são rivais estratégicos.

Durante as negociações, segundo o Izvestia, a Rússia confirmou o seu desejo de aprofundar a cooperação com a China e Mishoustin congratulou-se com a actividade das empresas chinesas no mercado russo, bem como com a decisão do Conselho de Estado da República Popular da China, que simplificou o processo de admissão de produtos agrícolas ao mercado chinês.

No encontro foi sublinhado que a estreita cooperação entre a Federação Russa e a China está a causar preocupação na Europa e nos Estados Unidos, uma vez que Washington encara tanto a Rússia como a China como seus adversários geopolíticos.

Leia Também: China e Rússia acordam intensificar cooperação em matéria de investimento