Delegação de guineenses denuncia situação da Guiné-Bissau na ONU

Uma delegação de guineenses residentes nos EUA entregou hoje na ONU um dossiê em que denuncia a atual situação na Guiné-Bissau, na sequência da crise política desencadeada pela dissolução do parlamento pelo Presidente da República, à margem da Constituição.

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Lusa
22/12/2023 20:05 ‧ 22/12/2023 por Lusa

Mundo

Guiné-Bissau

Em declarações à agência Lusa, Anísio Indami, que liderou a delegação, com dirigentes da representação do PAIGC -- partido maioritário e que lidera a coligação governamental demitida pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló -, e da comunidade guineense nos Estados Unidos, considerou que o "parlamento está sequestrado" e que o chefe de Estado guineense "está a brincar com a democracia".

A delegação guineense reuniu-se com o número dois da representação diplomática de Cabo Verde na ONU, José Delegado, a quem entregou a documentação, que será ainda distribuída às missões diplomáticas dos restantes Estados membros da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP).

"Foi muito bom e correu muito bem. Saímos mais entusiasmados, com a sensação que não nos sentimos abandonados pela comunidade internacional", salientou Anísio Indami, contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa.

"Pudemos saber das movimentações a nível das Nações Unidas e da CPLP. Ficamos mais tranquilos em saber que estão a acompanhar de perto a situação em Bissau", frisou.

Além de reuniões com as missões diplomáticas dos países da CPLP, a delegação tem agendadas para a primeira semana de janeiro mais encontros de sensibilização para a atual situação na Guiné-Bissau.

"Nesse momento temos essa abertura de CPLP, a nível de Cabo Verde e, consequentemente, vamos continuar, porque temos em agenda [reuniões] também com departamento de sanções da ONU. Também fizemos denúncia ao Departamento de Direitos Humanos e também da Luta contra o Terrorismo e o Narcotráfico e Secretariado Geral", acrescentou.

A crise política na Guiné-Bissau espoletou-se depois do Presidente Sissoco Embaló ter decretado a dissolução do parlamento, eleito em junho passado, antes do prazo constitucional para o poder fazer.

Sissoco Embaló considera o parlamento guineense foco de instabilidade no país.

Em seguida, o Presidente demitiu o primeiro-ministro Geraldo Martins, depois deste recusar formar um Governo de iniciativa presidencial, e nomeou, em substituição, Rui Duarte de Barros, episódios de uma crise que começou a ser desenhada na sequência de confrontos entre militares, nos passados dias 30 de novembro e 01 deste mês.

Sissoco Embaló classificou esses incidentes de tentativa de golpe de Estado.

Os confrontos ocorreram na sequência da detenção de dois membros do Governo acusados de alegada corrupção no pagamento de dívidas do Estado a empresas.

Entre a documentação entregue pela delegação liderada por Anísio Indami estão cópias em língua portuguesa e traduções em inglês e francês dos artigos cuja violação imputam a Sissoco Embaló.

"Num Estado de direito democrático estamos a brincar à democracia. O Parlamento tem que voltar a funcionar. O Parlamento está sequestrado por indivíduos de providência duvidosa", frisou.

"E o presidente do Parlamento [Domingos Simões Pereira, que é também líder do PAIGC], segunda figura do país, está sem segurança. Isto é grave", concluiu.

O encontro da delegação guineense nas Nações Unidas ocorreu um dia depois do secretário-geral da ONU, António Guterres, ter afirmado que acompanha com preocupação os desenvolvimentos da atual crise política na Guiné-Bissau.

Em mensagem emitida pelo porta-voz, e divulgada quinta-feira pelos serviços de imprensa da ONU, António Guterres apela a todas as partes para que respeitem a Constituição e se envolvam num diálogo construtivo para a resolução das suas diferenças políticas.

"Na semana passada, a polícia da Guiné-Bissau disparou gás lacrimogéneo para dispersar alguns parlamentares após a decisão de dissolução da casa legislativa", conclui o comunicado de imprensa da ONU.

Leia Também: Presidente guineense avisa novo Governo que é contra clientelismo

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