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"Qualquer idiota pode ser eleito" nos EUA, diz analista Kori Schake

A analista Kori Schake, do American Entreprise Institute, elogia as virtudes do sistema político norte-americano, que "é suficientemente maleável para que qualquer idiota seja eleito presidente", mas também forte nos seus contrapoderes face a "um homem perigoso" como Donald Trump.

"Qualquer idiota pode ser eleito" nos EUA, diz analista Kori Schake
Notícias ao Minuto

10:32 - 13/01/24 por Lusa

Mundo Kori Schake

Em ano eleitoral nos Estados Unidos, a diretora de Política Externa e Defesa do 'think tank' conservador antevê, em entrevista à Lusa, "uma eleição muito aberta, mesmo para os padrões americanos", em que um regresso de Trump à Casa Branca é "um perigo para a democracia e para o mundo", demonstrado pelo desejo do candidato republicano de abandonar a NATO e de interromper o apoio à Ucrânia.

Se Trump ganhar, "a Ucrânia vai perder a guerra", adverte a analista norte-americana de 61 anos, que está convencida de que Kiev já teria sido derrotada com Trump na Casa Branca.

"O que estamos a assistir entre mais de 54 países para ajudar a Ucrânia é um excelente exemplo de como os Estados Unidos, quando se comprometem a liderar, podem organizar outros países para cooperar e contribuir de uma forma benéfica para a segurança e a prosperidade de todos nós", observa, "mas Trump não acredita em nada disto".

O Congresso norte-americano tem pendente a aprovação de um pedido do Presidente Joe Biden de apoio às autoridades de Kiev avaliado em mais de 55 mil milhões de euros, que tem sido travado pela maioria republicana na Câmara dos Representantes, tratando-se da "política interna a jogar com a Ucrânia, quando toda a gente sabe que tem de haver mais ajuda".

"Os republicanos que controlam apenas uma das câmaras do Congresso - e mal a controlam na verdade - sabem que o Presidente Biden está profundamente empenhado na guerra na Ucrânia e por isso têm poder negocial", observa a analista, que esteve na quinta-feira em Lisboa para a conferência "Estados Unidos no Mundo: Guerras, Política e Ordem", promovida pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

A questão é saber qual "o preço político que pode ser imposto ao Presidente dos Estados Unidos para o conseguir", segundo Kori Schake, que espera que as divergências sobre o apoio à Ucrânia, mas também a Israel e Taiwan, no Congresso - "um lugar habitualmente ruidoso e maldoso" - possam ser ultrapassadas no final de janeiro e que as forças de Kyiv continuem a enfrentar a invasão russa sem a pressão de ceder a negociações com Moscovo.

"As sociedades livres devem sempre preferir a negociação ao uso da força, mas não creio que um governo na Ucrânia possa permanecer no poder se consentir deixar os ucranianos sob ocupação russa", avisa a analista, alertando igualmente que um processo negocial "não deve ser imposto a quem está a lutar pela sua liberdade" e seria interpretado pelo Kremlin como "um sinal de fraqueza do Ocidente", enquanto procederia a um rearmamento e novas mobilizações militares.

Além do apoio à Ucrânia, a analista aponta a sobrevivência da NATO como estando também em risco numa eleição de Trump, e cita a revelação feita na quinta-feira pelo comissário europeu Thierry Breton, a propósito de uma conversa a que assistiu em 2020 com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em que o ex-líder norte-americano terá declarado que o seu país nunca ajudaria a Europa em caso de ataque e que era seu desejo abandonar a Aliança Atlântica.

Trata-se de "uma ameaça séria", de acordo com Schake, que, no seu percurso, desempenhou funções nos departamentos da Defesa e de Estado e no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, tendo trabalhado com altos dirigentes norte-americanos republicanos, incluindo John McCain na sua candidatura presidencial em 2008.

Comparando os perfis dos dois políticos, a analista conservadora vê no ex-Presidente norte-americano "uma vergonha e um perigo" face à elevação de McCain (falecido em 2018), recordando o seu discurso de aceitação de derrota para o democrata Barack Obama há 16 anos como "um grande momento de democracia" e "do quanto os republicanos estão a perder" ao apoiar Trump.

"Num segundo mandato, não haverá pessoas com a integridade de Mark Esper, Jim Mattis [ex-secretários da Defesa] e John Kelly [ex-chefe de gabinete da Casa Branca] no executivo, que teria pessoas tão perigosas como o Presidente Trump, que acreditam no que ele quer fazer e estão dispostas a encontrar formas, legais e ilegais, de o executar", alerta.

Por outro lado, assinala, uma vitória de Trump em 05 de novembro, faria soar "um toque de clarim" dos contrapoderes do sistema norte-americano -- na sociedade civil, tribunais e governos estaduais -, que "seriam duramente testados", como já sucedeu justamente quando Trump ocupava a Presidência.

Nessa altura, "os republicanos no Congresso aprovaram legislação que impedia o Presidente [Trump] de retirar tropas da Europa", lembra Kori Schake, referindo que a maioria dos norte-americanos "compreende que a aliança com os países transatlânticos é do seu interesse e a forma mais segura de se manterem seguros e prósperos".

A analista afirma também que, apesar da vigorosa política contrária de Trump, os Estados Unidos foram o primeiro país a cumprir objetivos climáticos do Acordo de Paris, graças aos esforços de governos estaduais como a Califórnia ou Nova Iorque - "ou da minha mãe, que comprou um carro elétrico".

"Por muito que me preocupe com uma eleição de Trump, no sistema americano, há muitas forças contrárias", insiste Kori Schake, que também dirige críticas para a administração Biden, num contexto em que "os americanos sabem que o mundo está mais perigoso", apesar da vantagem de terem "vizinhos maravilhosos", o que leva a que a política externa não afete tradicionalmente as eleições nos Estados Unidos.

"Biden não elaborou políticas satisfatórias para a maioria dos americanos, não aumentou a despesa com a Defesa, embora se exigisse muito mais, e não foram adjudicados contratos para mais munições e armas, mesmo sabendo-se que não temos as suficientes", comenta.

Entre os dois prováveis candidatos, Schake não vê grandes diferenças em relação à China, mas, em oposição, há "um grande contraste" sobre a Ucrânia, o que poderá beneficiar o democrata, na medida em que a maioria dos norte-americanos tem sido favorável ao apoio a Kiev, enquanto o Médio Oriente poderá trazer problemas para o atual líder da Casa Branca, "face à preocupação da ala esquerda do seu partido sobre a extensão do apoio expresso pelo Presidente a Israel", o que poderá reprimir também parte do seu eleitorado

"Aquilo a que estamos a assistir é essencialmente a dois candidatos com currículo de liderança, um antigo Presidente e um atual Presidente e os eleitores estão insatisfeitos com ambos", analisa a responsável do American Entreprise Institute.

Mas não é claro se alguém poderá beneficiar dessa avaliação, como Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e ex-embaixadora na ONU, e que tem vindo a subir nas sondagens para as primárias republicanas: "Espero bem que o consiga. Penso que ajudaria os republicanos a recordar os nossos princípios conservadores".

Para concorrer à Casa Branca, Trump tem ainda de ultrapassar vários processos na justiça, incluindo por insurreição no assalto ao Capitólio há três anos, que poderão afastá-lo dos boletins de voto.

Mas, entretanto, pode apresentar-se pela primeira vez um movimento de "terceira via", de acordo com a comentadora, conhecido como 'No Labels', e oferecer uma alternativa a Trump "provavelmente o senador Joseph Manchin de Virgínia Ocidental, possivelmente Nikki Haley" se falhar a nomeação republicana.

"O nosso sistema é suficientemente maleável para que qualquer idiota seja eleito Presidente", afirma Kori Sckake", adicionando que "muitas vezes isso acontece".

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