Lai Ching-te, um filho de mineiro que ambiciona independência de Taiwan

Lai Ching-te, eleito hoje presidente de Taiwan, descreve-se como um "arquiteto pragmático da independência", mas a vitória deste filho de um mineiro e antigo médico com estudos nos Estados Unidos é vista como "um sério perigo" para a China.

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Lusa
13/01/2024 14:49 ‧ 13/01/2024 por Lusa

Mundo

Taiwan

Nascido há 64 anos, casado com dois filhos e de origem modesta, ao contrário da maioria da classe política taiwanesa, o atual vice-Presidente, que se candidatou às presidenciais pelo Partido Democrático Progressista (DPP), no poder, foi criado pela mãe após a morte do pai quando era criança.

Estudou em Harvard, nos Estados Unidos, e foi primeiro médico no hospital de Tainan, no sudoeste da ilha, onde assumiu a vice-presidência da autarquia, no seu primeiro cargo político, antes de se tornar primeiro-ministro em 2017.

Descrito como tenaz e combativo pelo seu antecessor, Lai Ching-te -- que também se autodenomina William Lai -- decidiu entrar na política em 1996, quando Pequim realizou testes de mísseis junto de Taiwan, na altura da primeira eleição presidencial democrática do território.

"Decidi que era meu dever participar na democracia taiwanesa e ajudar a proteger esta experiência nascente daqueles que desejavam prejudicá-la", recordou no ano passado no Wall Street Journal.

Pequim classificou-o e à sua parceira de eleição, Hsiao Bi-khim, ex-representante de Taipei em Washington, como uma "dupla perigosa pró-independência".

Desde a eleição do Presidente cessante, também do DDP, Tsai Ing-wen, em 2016, a China cortou todas as comunicações de alto nível com Taiwan, que considera uma das suas províncias, e aumentou a pressão diplomática e militar à medida que a votação se aproximava.

Durante a campanha, Lai disse que a eleição seria uma escolha entre "democracia e autocracia", expressão hoje repetida no seu discurso de vitória, e prometeu apoio inabalável à manutenção do estatuto da ilha.

O novo Presidente taiwanês criticou também "o princípio chinês de 'uma só China'", alegando que "a paz sem soberania é como Hong Kong", antigo território britânico onde Pequim reduziu as liberdades democráticas.

No entanto, Lai está pessimista quanto ao futuro das relações com Pequim, especialmente depois de um ano e meio durante o qual a China aumentou ainda mais o que Taiwan descreve como manobras de assédio através de abordagens constantes de aviões de combate e navios na linha de segurança que divide o Estreito em dois.

A pressão chinesa atingiu um pico em 2022 em retaliação à visita à ilha da então presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi.

"Aspiramos à paz, mas não temos ilusões", declarou Lai numa conferência de imprensa antes das eleições. "Teremos de fortalecer os nossos mecanismos de defesa, a nossa segurança económica, as nossas relações com as democracias em todo o mundo e teremos de preservar uma liderança forte nas relações através do Estreito", acrescentou.

Lai tem porém combinado este tipo de declarações com comentários mais ponderados sobre o futuro das relações com Pequim: "A nossa porta estará sempre aberta ao entendimento com a China sob um princípio de igualdade, porque a paz não tem preço e a guerra não conhece vencedores".

No seu discurso de vitória, William Lai saudou os eleitores por resistirem a "pressões externas" e prometeu "proteger Taiwan das contínuas ameaças e intimidações da China", mas também "manter o intercâmbio e a cooperação" com Pequim.

Apesar disso, as autoridades chinesas descreveram o novo Presidente taiwanês como um "sério perigo" para as relações entre a China e Taiwan.

"Se chegar ao poder, continuará a promover atividades separatistas ligadas à independência de Taiwan", disse Chen Binhua, porta-voz do departamento chinês responsável pelas relações com a ilha.

William Lai venceu as eleições presidenciais realizadas hoje em Taiwan com 40,2% dos votos, segundo os resultados oficiais provisórios correspondentes a 98% do apuramento das mesas, à frente do candidato do Kuomintang (KMT), principal partido da oposição, Hou Yuh-ih, que defende a aproximação com a China, e que já reconheceu a derrota, e de Ko Wen Je, do Partido Popular de Taiwan (TPP).

Os taiwaneses também votaram para a renovação dos 113 assentos no parlamento, onde o DPP poderá perder a maioria.

As urnas fecharam às 16:00 locais (08:00 em Lisboa) neste território de 23 milhões de habitantes localizado a 180 quilómetros da costa chinesa e aclamado como modelo de democracia na Ásia.

A China considera Taiwan uma das suas províncias, que ainda não conseguiu reunificar com o resto do seu território desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949.

Durante toda a semana, Pequim aumentou a sua pressão diplomática e militar. Na quinta-feira, cinco balões chineses cruzaram a linha mediana que separa a ilha autónoma da China, segundo o Ministério da Defesa de Taiwan, que também avistou dez aviões e seis navios de guerra.

Pequim apelou para que os eleitores fizessem "a escolha certa" e o Exército chinês prometeu "esmagar" qualquer desejo de independência

Leia Também: Taiwan. UE felicita todos os que participaram no "exercício democrático" 

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