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"Temos fogueiras, andamos de burro. Como se voltássemos à vida primitiva"

Mais de três meses depois de o conflito entre Israel e o grupo Hamas ter começado no Médio Oriente, milhões de vidas viram o seu dia a dia ser radicalmente alterado. Hussein Owda é uma dessas pessoas, que no dia em que se mudou para a sua casa teve de a abandonar, fugindo dos ataques israelitas.

"Temos fogueiras, andamos de burro. Como se voltássemos à vida primitiva"
Notícias ao Minuto

10:11 - 16/01/24 por Notícias ao Minuto

Mundo Israel/Palestina

Hussein Owda é um dos milhões de deslocados de Gaza que desde 7 de outubro foram obrigados a abandonar as suas casas e procurar a sobrevivência.

À publicação Al Jazeera, o homem contou como é a sua vida nos últimos tempos, deixando um relato do dia-a-dia, agora que vive em Khan Younis, para onde muitos fugiram.

“A vida é muito básica aqui”, começa por descrever à publicação, detalhando: “Fazemos fogueiras com madeira para poder cozinhar, dormimos ao relento, andamos de burro. É como se tivéssemos voltado no tempo, a uma forma primitiva de vida”.

Owda, que tem três filhos, deslocou-se para o local também com a sua mulher – mas no local as mulheres e crianças são separadas dos homens. Elas e as crianças dormem no interior, eles no exterior.

Owda conta que durante os primeiros dois meses dormia no carro, ainda que as janelas estivessem partidas. Mas com a chuva começou a ser ainda mais difícil passar a noite ao relento, e ele acabou por procurar alguns sacos para tapar o carro.

“Num modo primitivo de vida, era esperado que tivesses alguma privacidade ou mesmo algum espaço no chão para dormir. Não é o que se passa nesta vida primitiva”, explicou.

O palestiniano explica ainda que uma das coisas que o deixa mais frustrado nesta situação é ter de esperar numa fila de cada vez que ele ou uma das crianças quer usar a casa de banho. “É um pouco humilhante e frustrante… mas depois chego a um ponto em que já só me consigo rir, porque não há nada que possa fazer”, desabafou.

“Ninguém se parece importar muito, porque tudo se tornou normal”

Owda conta ainda que foi acordado repentinamente de um dos seus sonhos, já que o dia em que a guerra começou, em outubro, foi quando a família se tinha mudado para um novo apartamento. Owda e a família abandonaram a nova casa no dia em que a estreavam. “Durante oito anos, fiz de tudo pelo meu sonho – de ter um apartamento para mim e para a minha família”, recordou, explicando que nesse dia acabou por se mudar para casa dos sogros – na mesma altura em que soube que o seu melhor amigo tinha morrido na sequência de um ataque israelita.

Não demoraram muitos dias a sair do Alkarama, e, no dia 13, rumaram a sul, e numa das noites, teve uma conversa coma filha mais velha, de oito anos – e perguntou-lhe o que achava da viagem e acampamento que estavam a realizar.

“Pai, isto não é acampar”, foi a resposta que a filha, Lin, lhe deu, enquanto ouviam os drones israelitas a voar acima de si. Mas a criança não ficou por aqui, e terá dito: “Não temos uma floresta bonita à nossa volta, não temos uma tenda, não temos lanternas”, enumerou, concluindo: “Não temos uma fogueira também para nos aquecer, nem marshmallows”.

Owda explica à Jazeera que no início, os três filhos se assustavam com o barulho das bombas, e que agora “ninguém se parece importar muito, porque tudo se tornou normal”.

“Ninguém pode pensar muito no futuro ou até no que quer fazer amanhã. Estamos todos em modo de sobrevivência”, defendeu, explicando que agora já não chora como anteriormente.

“Perdemos a nossa casa. Perdi 11 familiares. Vivo esta vida humilhante que é o mais longe do que alguém poderia imaginar sobre o que uma ‘vida’ deveria ser”, notou.

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