Número de vítimas da violência de gangues no Haiti aumentou 122% em 2023
O Escritório Integrado da ONU no Haiti (BINUH) documentou em 2023 mais de 8.400 vítimas diretas da violência de gangues no país, incluindo pessoas mortas, feridas e sequestradas, representando um aumento de 122% face a 2022, foi hoje divulgado.
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Os dados foram apresentados ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) pela líder do BINUH, María Isabel Salvador, que salientou que a capital haitiana, Port-au-Prince, foi palco de 83% dos homicídios e dos ataques que resultaram em feridos, sendo que a violência também se espalhou para outras áreas do país caribenho, especificamente para Artibonite.
"O Haiti continua a ser assolado por uma escala crescente de violência devido a um aumento sem precedentes de raptos, violações e outros crimes cometidos por grupos armados que afetam cada vez mais os meios de subsistência das pessoas e minam as atividades humanitárias. No Haiti, (...) múltiplas crises prolongadas atingiram um ponto crítico", alertou a representante.
A sul da capital haitiana, os gangues realizaram ataques em grande escala para controlar zonas-chave e continuam a recorrer sistematicamente à violência sexual nas suas áreas de controlo, colocando em risco mulheres e meninas com apenas 12 anos, denunciou María Isabel Salvador.
A violência, a deslocação e a perda de meios de subsistência deixaram milhares de crianças vulneráveis ao recrutamento por parte dos gangues.
Face a este cenário, a Polícia Nacional haitiana começou a manifestar sinais de desgaste, o que levou à diminuição da sua capacidade de combater a violência e manter a segurança.
Embora 795 novos recrutas sejam esperados em março após concluírem a formação, a lacuna de pessoal continua preocupante, dado que cerca de 1.600 polícias deixaram a força policial em 2023, de acordo com dados recolhidos pelo BINUH.
María Isabel Salvador também informou os membros do Conselho de Segurança sobre os preparativos em curso para o envio da Missão de Apoio à Segurança Multinacional do Haiti, que o órgão da ONU autorizou o Quénia a liderar. Embora a missão não seja uma operação da ONU, a organização fornece apoio logístico e de consultoria.
"Apelo mais uma vez aos Estados-Membros para que contribuam generosamente para garantir a execução atempada dessa missão no Haiti", apelou a líder do BINUH.
Embora a melhoria da situação de segurança seja essencial para quebrar o ciclo de crises no Haiti, María Isabel Salvador observou que a estabilidade a longo prazo só pode ser alcançada através de um "processo político inclusivo e de propriedade nacional", admitindo, porém, a persistência de divergências sobre as disposições de governação, situação que dificulta o progresso nessa frente.
"O apoio contínuo à Polícia Nacional haitiana, a rápida em entrada em vigor da Missão de Apoio à Segurança Multinacional do Haiti, sanções eficazes, e, um processo político sustentado que resulte em eleições credíveis, participativas e inclusivas, constituem elementos fundamentais para restaurar a segurança e a estabilidade no país", concluiu.
Desde o assassinato do Presidente Jovenel Moise em julho de 2021, os gangues no Haiti tornaram-se mais poderosos e violentos.
Em dezembro passado, a ONU estimou que os grupos armados organizados controlavam 60% da capital do país, mas a maioria das pessoas nas ruas de Port-au-Prince diz que esse número está próximo dos 100%.
A par da violência, o país, o mais pobre do hemisfério ocidental, também atravessa uma crise política.
Nos últimos tempos, o país foi também afetado por chuvas torrenciais, um sismo e um surto de cólera.
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