O porta-voz de António Guterres disse hoje em conferência de imprensa que não sabe quais os potenciais doadores que participarão nessa reunião, mas acrescentou que a Organização das Nações Unidas fará todo o possível para responder às preocupações de todos aqueles que, como a União Europeia, solicitaram uma auditoria externa realizada por agentes independentes.
"Qualquer Estado-membro que tenha recursos financeiros para apoiar a UNRWA, iremos chamá-lo", disse Stéphane Dujarric, sem citar nenhum em particular.
O porta-voz voltou a pedir aos países que anunciaram que estão a suspender o seu financiamento -- incluindo os Estados Unidos da América (EUA), Canadá, Japão e vários europeus -- para que "garantissem a continuidade" do trabalho da UNRWA, pelo menos no "trabalho humanitário mais crítico".
Dujarric lembrou que a UNRWA tem 13 mil funcionários em Gaza que ajudam mais de um milhão de palestinianos, mas o seu trabalho não termina aí, pois têm outros 17 mil agentes na Cisjordânia, no Líbano e na Síria em tarefas de assistência -- saúde, educação e até alimentação -- aos refugiados palestinianos.
O porta-voz de Guterres deixou claro que o trabalho da UNRWA em Gaza é insubstituível ou irrealizável por outra agência da ONU: "Nenhuma organização fora da UNRWA tem a infra-estrutura para fazer o trabalho que faz. Não é como se outra organização chegasse amanhã e fizesse o trabalho. Não é viável".
Sobre as acusações contra a UNRWA de conluio com o terrorismo, Dujarric lembrou que há duas investigações em curso: uma dos Assuntos Internos da ONU, lançada na passada sexta-feira, para apurar o alegado envolvimento de nove membros da agência nos ataques de 07 de outubro contra Israel, e outra mais global sobre a sua operação já iniciada em data anterior.
Segundo o porta-voz, as alegadas provas que incriminavam os nove agentes da UNRWA -- um dos mencionados por Israel está morto e mais dois desaparecidos -- foram mostradas ao comissário-geral da agência, Philippe Lazzarini, que foi quem decidiu expulsar os nove agentes, como medida administrativa enquanto se realiza a investigação.
Lazzarini posteriormente falou por telefone com António Guterres em várias ocasiões durante o fim de semana, e o secretário-geral disse que se sentiu "horrorizado com estas acusações", embora Dujarric tenha esclarecido que o líder da ONU não viu essas provas incriminatórias.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, cancelou hoje uma reunião com Lazzarini e pediu imediatamente a sua demissão: "Os apoiantes do terrorismo não são bem-vindos aqui", disse.
Treze países congelaram as suas contribuições para a UNRWA, enquanto outros estão cautelosos enquanto aguardam que as alegações sejam esclarecidas. Entre os que suspenderam a ajuda estão os EUA, os primeiros a tomar a medida na sexta-feira, seguidos pelo Canadá, Reino Unido, Austrália, Finlândia, Países Baixos, Áustria, Alemanha, Itália, França, Suíça, Roménia e Japão.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita, matando cerca de 1.140 pessoas, na maioria civis, e levando mais de 200 reféns, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento islamita palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e EUA, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo as autoridades locais tuteladas pelo Hamas, já foram mortas mais de 26.000 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.
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