"A esperança morreu. Estou a tremer, estou a sentir as mesmas emoções que sentiria se tivesse perdido um pai", reagiu Maria, uma especialista em informática de 22 anos, citada pela agência de notícias francesa AFP e que, como as outras pessoas entrevistadas, preferiu não dizer o apelido.
É "uma grande perda para toda a oposição russa, uma tragédia", acrescentou.
Embora Navalny, inimigo declarado do Kremlin (Presidência russa), estivesse preso desde que regressou à Rússia, no início de 2021, ele representava, apesar de tudo, para uma parte da população a esperança remota de um fim do autoritarismo e da era Putin no país.
O carismático ativista anticorrupção era sobretudo popular junto da juventude das grandes cidades russas, como Moscovo, onde ficou em segundo lugar nas eleições autárquicas de 2013, as últimas a que foi autorizado a candidatar-se.
Alexei Navalny, de 47 anos, morreu hoje numa prisão do Ártico para onde tinha sido recentemente transferido para cumprir uma pena de 19 anos sob "regime especial", segundo o serviço penitenciário federal da Rússia.
Ter-se-á sentido mal depois de uma caminhada, entrou em paragem cardiorrespiratória e os médicos da prisão e os dos serviços de socorro que acorreram à prisão não conseguiram reanimá-lo, indicou a direção do estabelecimento.
Até ao momento, a equipa de Navalny não confirmou esta informação, mas destacados dirigentes ocidentais e os apoiantes do opositor responsabilizam o Presidente russo, Vladimir Putin, pela sua morte.
"Esperamos que não seja verdade. Para ser sincero, é difícil de acreditar. E é assustador pensar no que vai acontecer a seguir, no que o Estado pode fazer aos seus cidadãos", lamentou Marc, estudante de 18 anos.
Para Valeria, guia turística de 28 anos, Navalny era "um símbolo de esperança num futuro melhor para a Rússia".
"Tenho a impressão de que, com a sua morte, essa esperança morre também", observou, acrescentando que "se essa esperança ainda existia de uma forma ou de outra, agora está ainda mais fraca".
Após quase um quarto de século de Putin no poder e dois anos de guerra com a Ucrânia, "muita gente vai desistir, porque as pessoas precisam sempre de um símbolo em qualquer forma de resistência", considerou.
A morte de Navalny, que se segue a um caso de envenenamento de que acusou o Kremlin e a três anos de prisão, priva uma oposição já exangue da sua figura de proa. Quase todas as figuras da oposição estão atrás das grades ou exiladas no estrangeiro.
"Ainda não consigo acreditar, mas se for verdade, é uma tragédia pessoal para mim e para muitas pessoas que conheço", disse Arthur, estudante de 27 anos.
Para ele e para muitos outros da sua geração, "Navalny representava uma certa imagem de mudança positiva no futuro, de reformas futuras que podiam levar a população a melhores condições que as que tem".
Arthur diz mesmo que está zangado e que sente "vontade de ir embora" do país.
A Rússia tem assistido a um êxodo difícil de quantificar desde o início da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, e da mobilização militar parcial decretada em setembro do mesmo ano por Putin. Trata-se frequentemente de pessoas jovens e instruídas que vivem nas grandes cidades: os apoiantes de Navalny.
"Já não acreditamos na possibilidade de uma mudança para melhor", lamentou Arthur.
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