O veterano ativista dos direitos humanos, Oleg Orlov, foi condenado esta terça-feira a dois anos e meio de prisão, após ser considerado culpado de desacreditar das Forças Armadas russas, num julgamento num tribunal de Moscovo.
"O tribunal decidiu considerar Orlov culpado e impôs uma pena de dois anos e seis meses numa (...) colónia penal", disse o juiz no seu veredicto, segundo um jornalista da agência de notícias AFP presente na audiência.
"Acusam-nos de desacreditar [o exército], sem explicar do que se trata nem de como isso difere da crítica legítima. Acusam-nos de espalhar intencionalmente informações falsas sem nos preocuparmos em provar a sua falsidade", disse Orlov na sua última declaração antes do veredicto.
Orlov lembrou que está a ser julgado por um artigo em que qualificou o atual regime político de "totalitário e fascista", algo que, face ao que aconteceu nos últimos meses, incluindo a morte na prisão do opositor Alexei Navalny, disse não ter sido "nem um pouco exagerado".
Durante o julgamento, Orlov recusou-se a reconhecer a sua culpa e renunciou à presença de testemunhas em sua defesa, argumentando que isso poderia representar um risco para elas, uma vez que foi classificado como 'agente estrangeiro', estatuto que implica pesadas restrições administrativas.
Orlov denunciou ainda "o estrangulamento da liberdade" na Rússia e "a entrada de tropas russas na Ucrânia".
"Não me arrependo de nada e não me arrependo de nada", destacou Orlov, antes de ser algemado após o veredito e ser levado sob custódia policial.
O processo contra o ativista teve origem num artigo que escreveu em 2022, no qual afirmava que a Rússia de Vladimir Putin tinha descido ao fascismo na sequência da invasão da Ucrânia.
"A guerra sangrenta declarada pelo regime de [do Presidente russo, Vladimir] Putin na Ucrânia não significa apenas o assassínio em massa de pessoas, mas também a destruição das infraestruturas, da economia e dos bens culturais daquele país extraordinário", dizia o artigo.
Inicialmente, um tribunal distrital multou-o em 150 mil rublos (equivalente a cerca de 1.507,45 euros), mas um novo julgamento determinou a pena de prisão efetiva.
Orlov, de 70 anos, foi um dos líderes do grupo de defesa dos direitos humanos 'Memorial' durante mais de 20 anos. O grupo ganhou uma parte do Prémio Nobel da Paz em 2022, um ano depois de ter sido banido e dissolvido na Rússia, reporta a agência Reuters.
A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos na Rússia, Mariana Katzarova, considerou o julgamento de Orlov "uma tentativa orquestrada de silenciar as vozes dos defensores dos direitos humanos na Rússia".
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