Países Baixos inauguram primeiro museu do Holocausto

Oitenta anos após a Segunda Guerra Mundial, os Países Baixos abrem, em Amesterdão, o seu primeiro museu do Holocausto, na esperança de aumentar a consciência pública numa altura em que a guerra em Gaza gerou preocupações sobre o antissemitismo.

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© NICK GAMMON/ANP/AFP via Getty Images

Lusa
06/03/2024 09:38 ‧ 06/03/2024 por Lusa

Mundo

Amesterdão

Uniformes listados de Auschwitz, botões de roupas arrancados à chegada ao campo de extermínio de Sobibor, cartas e fotos: o museu exibe 2.500 objetos, a maioria dos quais nunca foi mostrada ao público.

Antes da guerra e da ocupação nazi, os Países Baixos eram o lar de cerca de 140 mil judeus, principalmente em Amesterdão, sendo que 102 mil destes foram mortos no Holocausto, ou seja, cerca de 75%.

O edifício que abriga o museu, uma antiga creche localizada no histórico bairro judeu do centro de Amesterdão, desempenhou um papel vital na história do Holocausto nos Países Baixos.

Do outro lado da rua há um teatro para onde famílias judias foram levadas enquanto esperavam para serem deportadas para os campos de extermínio.

As crianças foram separadas das suas famílias e levadas para o jardim-de-infância, antes de serem deportadas.

Cerca de 600 crianças foram 'contrabandeadas', a maioria em caixas ou cestos, debaixo do nariz dos guardas nazis, e levadas para um local seguro pela resistência neerlandesa.

Os visitantes do museu têm a oportunidade de seguir os passos destas crianças, pelo corredor por onde fugiram. Fotos de bebés e crianças que não sobreviveram preenchem as paredes.

O museu também mostra textos das leis antijudaicas que os nazis impuseram à comunidade, incluindo a exigência de 1942 de usar uma estrela de David amarela e fotos das vítimas, juntamente com informações sobre as suas vidas.

"Estamos a contar esta história de extrema humilhação e devolvemos a dignidade às vítimas, apresentando os seus objetos de uma forma muito especial", explicou à agência France-Presse (AFP) a curadora do museu, Annemiek Gringold.

O museu exibe os sapatos usados por Roosje Steenhart-Drukker, sobrevivente do Holocausto, de 82 anos, quando seus pais judeus a abandonaram aos dois anos de idade, na esperança de que alguém a encontrasse.

"Estou extremamente feliz que a nossa história não esteja perdida depois de toda esta tragédia, de toda esta tristeza", sublinhou à AFP.

Não muito longe do museu fica a casa de Anne Frank, a adolescente judia que se refugiou com a família num anexo secreto durante dois anos para escapar aos nazis antes de morrer em Bergen-Belsen, aos 16 anos, em 1945. O seu diário tornou-se numa das histórias mais poderosas do Holocausto.

O rei Willem-Alexander dos Países Baixas inaugurará oficialmente o museu no domingo, num momento de aumento do antissemitismo no país.

O número de incidentes antissemitas duplicou em 2023, segundo dados oficiais. Num ataque recente que ganhou destaque, foram pintadas suásticas numa sinagoga.

Amesterdão destinou 900 mil euros para proteger o museu, em frente ao qual foram colocados blocos de cimento para evitar um ataque por atropelamento.

A associação do bairro judeu, que gere o museu, absteve-se até agora de comentar o ataque do Hamas em 07 de outubro, que desencadeou a atual guerra em Gaza, mas disse estar "seriamente preocupada" com o antissemitismo, a polarização e a islamofobia nos Países Baixos, desde o início do conflito em Gaza.

"É lamentável que a abertura do Museu Nacional do Holocausto coincida com esta guerra em curso. Isto apenas torna a nossa missão mais urgente", afirmou a associação.

Leia Também: Blinken discorda de Lula sobre ofensiva em Gaza mas boa relação permanece

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