"Dentro de alguns dias, começa o mês sagrado do Ramadão. Por isso, hoje, a partir desta tribuna, lanço um apelo. Apelo a todas as partes no Sudão para que honrem os valores do Ramadão, cessando as hostilidades", declarou Guterres numa reunião do Conselho de Segurança.
"Esta cessação das hostilidades deve conduzir a um silenciamento permanente das armas em todo o país e estabelecer um caminho firme em direção a uma paz duradoura para o povo do Sudão", acrescentou.
O vice-embaixador britânico James Kariuki anunciou que apresentou um projeto de resolução do Conselho que apela a "um cessar-fogo imediato antes do mês sagrado do Ramadão e apela às partes para que permitam o acesso sem entraves da ajuda humanitária através das fronteiras e das linhas da frente".
O diplomata britânico disse esperar que a resolução seja votada na sexta-feira, sendo que o Ramadão começa no início da próxima semana.
Os combates, que decorrem desde 15 de abril de 2023 entre o exército do general Abdel Fattah al-Burhane e as forças paramilitares de apoio rápido (RSF), do general Mohammed Hamdane Daglo, antigo segundo comandante das forças armadas, causaram milhares de mortos nesta nação onde a grande maioria é muçulmana.
"A crise humanitária no Sudão é de proporções colossais. Metade da população - cerca de 25 milhões de pessoas - precisa de ajuda humanitária para sobreviver. Mais de 14.000 pessoas foram mortas, um número que é provavelmente muito mais elevado na realidade", sublinhou António Guterres.
Segundo o português, "os sistemas de água e de saneamento estão a colapsar e as doenças estão a multiplicar-se".
Cerca de 18 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar aguda: "este é o número mais elevado alguma vez registado durante a época das colheitas, e os números deverão aumentar ainda mais nos próximos meses", alertou.
"Já estamos a receber relatos de crianças que estão a morrer de subnutrição", afirmou.
Guterres disse estar "alarmado com os apelos ao armamento de civis" nalguns Estados do país e com outros acontecimentos que "estão a deitar achas para a fogueira, ameaçando o país com uma maior fragmentação, um aumento das tensões intra e intercomunitárias e mais violência étnica".
Por outro lado, condenou também os "ataques indiscriminados" contra civis por parte das forças armadas sudanesas e das RSF.
"Continuamos a assistir a pilhagens generalizadas, prisões arbitrárias, desaparecimentos forçados, tortura, recrutamento e detenção de crianças", lamentou o secretário-geral, manifestando-se também alarmado com os relatos de "violência sexual sistemática ligada ao conflito, incluindo violações e violações coletivas, bem como raptos e tráfico de seres humanos para exploração sexual".
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